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Na gíria do "chumbar" ou "passar"

por Maria Joana Almeida, em 06.04.16

 

calvin.jpg

 

 

Quero iniciar este texto admitindo, atualmente, a minha dificuldade em conseguir posicionar-me neste tema, independentemente das óbvias relativizações a ter em consideração nesta decisão sensível. E sei que não consigo posicionar-me porque o foco não deverá ser o “chumbar” ou “passar”, mas sim, o que fazer para tentar ultrapassar as dificuldades sentidas.

 

Admito ter passado de um posicionamento bastante rígido em relação à não transição para um modelo que considero hoje “mais equilibrado”. Não vou novamente esgotar este texto na ineficiência do nosso sistema educativo em responder muitas vezes às reais necessidades dos alunos, mas um recente estudo revela que Portugal está na categoria de países onde os alunos mais “chumbam.” E também está na categoria dos países que mais associa o chumbar ao baixo estatuto socioeconómico.

 

Portugal é de todos os países da Europa aquele que mais associa chumbar com um baixo estatuto socioeconómico e cultural da família. Na Holanda, sendo um país onde chumbar é uma prática corrente, existe praticamente paridade de chumbo entre classes sociais mais e menos abastadas. As escolas portuguesas parecem estar a ser incapazes de fazer um trabalho de nivelamento de oportunidades, principalmente se nos lembrarmos que é até ao 6º ano que a maioria dos chumbos acontece.” http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2016-01-30-Chumbar-melhora-as-aprendizagens-

 

Se a escola serve para diminuir diferenças entre estratos socioeconómicos e permitir as mesmas oportunidades, percebemos que muitas vezes falha nesse objetivo.

 

Existem muitos aspetos que se devem ter em consideração na decisão de transitar ou não transitar um aluno: as aquisições, o perfil psicológico do aluno; o acompanhamento da família e o ano de escolaridade em que se encontra. Considero que quando estamos perante uma situação onde claramente o aluno demonstra ter competências mas em casa não consegue um apoio suficientemente bom, não deverá pagar o preço pelas condições em que e onde nasceu e pelas respostas deficitárias.

 

O estudo indica também como exemplo a Holanda, país também inserido na categoria com maior índice de retenções, como aquele que tem demonstrado uma grande preocupação em colmatar as dificuldades dos alunos quando são retidos sendo assim um país que demonstra bastante sucesso no trabalho de recuperação.

 

"A Holanda sendo um país com uma forte prática de retenção de alunos está a ajudá-los a recuperar o atraso (cerca de 50% destes alunos atinge pelo menos o nível 3" http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2016-01-30-Chumbar-melhora-as-aprendizagens-

 

Recordo-me de uma “discussão” que tive há pouco tempo onde me verbalizaram: “O(a) aluno(a) não pode pagar por aquilo que a escola não é capaz de dar. A não ser que o aluno seja completamente irresponsável no seu processo de aprendizagem. Quem se esforça mesmo com limitações não deve ver o seu caminho cortado.”

 

A marca de uma retenção não é facilmente contornável, depende de vários fatores e por isso devemos questionarmo-nos em que medida é que esta visão pode promover o sucesso do aluno?

 

Recordo-me do caso de um aluno que revelava ainda muita imaturidade e agitação psicomotora e este seu perfil reflectia-se, naturalmente, no seu desempenho escolar. A preocupação dos pais e professores traduzia-se no alheamento aos conteúdos abordados. Foi retido no mesmo ano (7ºano). No final do ano em que esteve retido, o aluno conseguiu ultrapassar as suas dificuldades principalmente pela grande sensibilidade dos pais que compreenderam que o mais importante era encontrar uma estabilidade emocional que não estava a ser conseguida e dos professores que (importante salvaguardar que se mantiveram) desempenharam uma função motivadora e nunca castradora. As notas passaram, sem qualquer “água benta” para níveis positivos e muito positivos. Este caminho foi possível pelo projeto em conjunto do aluno, pais e escola.

 

Da mesma forma que olhamos para o não transitar como um rótulo negativo e um peso psicológico para o aluno, também o devemos olhar para uma transição desmedida sempre assente na premissa de não “ficar para trás” a todo o custo. Cada caso é um caso e se tenho dificuldade em ter uma visão taxativa na decisão de transitar ou não, também a tenho em rotular a retenção taxativamente como algo extremamente negativo e sempre dramático.

 

A questão que se deve colocar é: Não transitando o aluno haverá condições para trabalhar as competências e potenciar as vivências necessárias para progredir com mais segurança? A decisão tem de ser sempre a longo prazo e nunca de um ano para outro avaliando naturalmente todas as variáveis.

 

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publicado às 23:57


6 comentários

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De P. a 09.05.2016 às 11:34

Não sou professora nem tenho qualquer formação na área da educação.
Mas este assunto é-me caro, sempre me fez muita confusão o "drama" que se tornou um chumbo.
A sociedade evoluiu de forma a "marcar" os alunos que chumbam, tornou-se uma vergonha para alunos e pais. E um problema para os professores, mas isso é outra conversa.
A questão que coloco é sempre: o aluno beneficiará com o chumbo?
No 1º ciclo um chumbo pode significar, na minha opinião, um percurso escolar de sucesso. Há crianças cuja maturidade não lhes permite estar naquele ano de ensino e sendo "forçados" a continuar vão sempre "um pouco coxos". Da mesma forma que há crianças que estando bem à frente dos restantes colegas não se sentem motivados o suficiente para aprender mais e mais.
Há, no entanto, chumbos que não trazem nada de bom, nem aos miúdos, nem aos pais nem a ninguém... excepto se tivermos em conta a justiça do grau de exigência igual. Mas, apesar de ser algo que todos os professores conhecem bem, a discussão do "tratar de forma diferente o que é substancialmente diferente" ainda não é fácil de ter na nossa sociedade.
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De paranoias-de-mae a 09.05.2016 às 13:08

Para o meu filho atualmente no 5º ano, chumbar significa perder os melhores amigos ...tem o grupinho dele e qurem continuar o percurso juntos!
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De Jorge Soares a 09.05.2016 às 14:22

Há sempre várias formas de olhar para qualquer assunto, a mim já me calhou passar pela situação, e na altura foi uma guerra com a escola porque nós achávamos que o nosso filho devia repetir o ano e a escola achava que não... felizmente ganhamos a guerra e sem dúvida foi a melhor decisão.

Na altura falei sobre o assunto, neste post : http :/ oqueeojantar.blogs.sapo.pt /193383.html

Jorge Soares

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De Maribel Maia a 09.05.2016 às 15:25

Podemos interpretar de duas formas, a primeira é que a escola pode não estar adaptada a reconhecer competências como importantes no estudante, para além daqueles que ela própria leciona... outra perspetiva será de que, a forma como se ensina, em Portugal, é por etapas de aquisição de conhecimento, se o estudante falha a etapa, torna-se mais difícil acompanhar e progredir..... muito haveria para debater sobre este assunto tão sensível!
Gostei da reflexão!
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De Bernardo a 09.05.2016 às 17:47

Nunca percebi a lógica do chumbo...
Então por exemplo um aluno que adquiriu 6 meses de conhecimentos mas que em comparação à média lhe faltaram 4 meses de matéria consolidada. O que lhe fazemos? Mandamos o aluno repetir os 6 que adquiriu (mais os 4 que faltavam).
Não consigo perceber porque não se recuperam os alunos mal eles começam a perder o comboio, aumentando a carga horária na disciplina em questão logo após o 1º teste abaixo da média.
Como estamos é um duplo castigo... não só leva o rótulo de pior que os outros como ainda fica mais para trás.
Nem sequer é muito relevante de quem é a culpa, em Portugal não temos política de castigo em relação aos criminosos mas sim de recuperação, mas para as crianças e jovens fazemos exactamente o contrário... não lhes damos as condições ideais e depois quando falham em vez de os ajudarmos castigamos e deixamos para trás.

Se aprendi alguma coisa ao ser pai é que toda a escola é um castigo, demasiado má para qualquer criança/jovem, se ficasse milionário era a primeira medida que tomava... tirar a minha filha da escola para sempre. Depois tratava de lhe arranjar um projecto educativo personalizado e decente. Agora infelizmente não tenho a coragem para a tirar desta porcaria de sistema de formação de carneiros em que vivemos.
Boa tarde e obrigado pelo artigo a levantar um tema tão importante para todos.
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De Anónimo a 10.05.2016 às 08:49

Podemos intrepretar a escola os professores e a capacidade destes em lidar com crianças cada uma com maneiras de ser e formas de estar diferentes. E eu pergunto os professores têm capacidade para dar aulas e preparar os alunos na vida escolar? Tenho um filho com 13 anos que a educação que é dada em casa leva o a ser educado mas a adolescência e o seu feitio e por muita conversa em casa não é fácil mudar perde facilmente o interesse pelo estudo por não ter incentivo pela parte de alguns professores que não sabem lidar com os miudos chegam dão a matéria e vão embora não entdndem que são miúdos e simplesmente não têm sensibilidade para o lugar que ocupam não é só o meu são todos as queixas são sempre as mesmas e os miúdos são os culpados por não estarem com atenção, etc. O sistema não funciona noventa minutos de aulas é insuportável tanto para alunos como para os professores dar aulas hoje não é a mesma coisa de à 20 anos atrás.

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