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5 perguntas, 5 respostas com Inês Afonso Marques

por Maria Joana Almeida, em 08.11.18

 

ines face.jpg

 

A Inês Afonso Marques foi a primeira pessoa que entrevistei no meu blog há três anos. É uma amiga e uma referência na área de paretalidade e dos seus desafios.

A Inês lançou o seu primeiro livro a título individual "Crescemos Juntos 365+1 Inspirações Para Uma Parentalidade Feliz." e não podia estar mais orgulhosa do seu trabalho. Um trabalho que assenta na observação e interação diária com pais, crianças e escola. Um trabalho consciente dos reais problemas e desafios nesta tríade nem sempre fácil e clara: escola - alunos - pais.

 

Ines livro.jpg

 

 

A entrevista fala por si.

 

Obrigada Inês:)

 

 

1 – Inês, foste a primeira pessoa que entrevistei no meu blog. Digamos que iniciaste esta rubrica. Três anos depois lanças o teu primeiro livro a solo. Como nasceu este projeto?

 

Escrever o Crescemos Juntos surge da vontade de “tocar” mais pessoas, além das que me procuram diariamente no consultório. Há temas transversais à maioria dos pais: dúvidas, medos, angústias que não os levam necessariamente a agendar uma consulta e que não faria grande nexo ficarem “só comigo”. Fui sentindo que algumas das reflexões feitas no contexto do consultório poderiam fazer sentido noutros formatos. Quis partilhá-los. Escrever este livro constitui uma forma de comunicar sobre temas da parentalidade com mais pais, mais famílias, mais educadores. É uma espécie de abraço contentor e uma enorme homenagem a todos pais que procuram dar o melhor de si todos os dias.

 

 

2 – Sou uma mãe recente e portanto, naturalmente mais desperta para esta viagem da parentalidade. Há dúvidas constantes que vão sendo ultrapassadas no momento pelo improviso, pelas nossas referências, pelo nosso “mapa emocional” (uma imagem muito ilustrativa mencionada por Catarina Beato). Quais são os maiores desafios da parentalidade?

 

Creio que o tema da “perfeição” é um desafio. Pais que procuram ser os melhores e que incitam os filhos a ser os melhores, por oposição a dar o melhor. Há uma espécie de competitividade latente, muitas vezes induzida pela própria sociedade, que gera imensa pressão sobre as famílias… Roubando-lhes espaço, tempo e genuinidade. Espaço para se relacionarem, sintonizarem e conhecerem verdadeiramente. Tempo de qualidade. Genuinidade para seguirem os seus corações, sem ceder a pressões exteriores.

Portanto, há muitas vezes a questão das pressões externas, fazendo as famílias andarem um pouco à deriva sem estarem conectadas com aquilo que valorizam e desejam verdadeiramente para elas. Há também a questão do tempo, dos horários e das rotinas. Mas eu coloco a tónica na qualidade do tempo. Ele pode muitas vezes não ser todo aquele que seria desejável. Mas o que existe é vivido em qualidade? Pais e filhos passam tempo conectados, em relação, em sintonia? Verdadeiramente, a qualidade do tempo que pais e filhos passam juntos é prioritária.

 

 

3 – Da tua experiência como têm andando os “nossos pais”, os pais desta atual sociedade? Há valores, inspirações que são transversais ou algumas muito específicas da realidade que habitamos?

 

Não quero, nem posso generalizar. Falo apenas daquilo que vou observando e refletindo com colegas, amigos e algumas famílias com quem trabalho. Acho que “os nossos pais” se sentem muitas vezes desorientados, sem forças, a precisar de “colo”, de encorajamento… Como tenho dito, de recalibrar as suas bussolas da parentalidade, de redescobrirem os seus valores enquanto pais, de voltarem a sintonizar com eles e de redescobrir as suas forças e qualidades.

Das 365+1 inspirações do “Crescemos Juntos” muito poucas serão específicas a algumas realidades. Elas são transversais à missão que é acompanhar o crescimento de um filho. Baseiam-se em partilhas que foram sendo feitas comigo, em reflexões pessoais e, obviamente, naquilo que a investigação na área da Psicologia e do Desenvolvimento Infantil no diz. Todas as inspirações estão formuladas numa linguagem simples, que convida à reflexão e à ação.

 

 

4 – E como andam os “nossos filhos” que inspirações necessitam? Por quê e por quem “gritam” eles?

 

Esta é mais fácil. J Os “nossos filhos” gritam por atenção, nas mais variadas formas. As crianças querem sentir-se especiais na relação que têm com os seus pais, querem brincar com eles, falar dos seus temas (que vão muito além do estudo), conhecer o mundo dos pais, passar tempo de qualidade com eles. Tantas e tantas crianças e adolescentes no consultório deixam cair frases como… “Os meus pais não sabem o que faço nos intervalos. Só querem saber o que almocei e quando é o próximo teste.” “De certeza que queres ouvir a minha música preferida? Os meus pais nunca a ouviram.” “Quem me dera que os meus pais se sentassem assim no chão comigo a fazer um jogo.” “Que bom sentir que me queres conhecer e que tens em consideração as minhas opiniões.” “Acho que os meus pais nunca foram falar com a minha Diretora de Turma.”

 

 

5 – Esta última pergunta tem sempre uma ligação mais estreita e direta com a Educação e Escola e sendo tu muito consciente das nossas escolas, de que inspirações precisa o nosso sistema educativo? E enquanto pais como podemos ajudar nesta construção?

 

Pegando na última frase, da resposta à pergunta anterior, pais e escola precisam de se inspirar mutuamente, de se valorizarem mutuamente, de comunicar mais. Havendo maior interligação entre escola e família, todos “crescem”. Todos poderão sentir-se mais confiantes, mais seguros, mais motivados nos seus múltiplos papéis. Infelizmente a escola é muitas vezes tema de conflito em casa e não faz sentido que assim seja. De parte a parte, famílias e escolas, respeitando os papéis únicos e especiais de cada sistema, devem procurar comunicar mais em prol dos mais novos.

Não sei se será uma visão demasiado utópica mas brincando um pouco e pegando nalgumas inspirações do “Crescemos Juntos” o sistema educativo…

“Poderia” valorizar mais os processos e menos os resultados.

“Poderia” abraçar mais os interesses das crianças.

“Poderia” respeitar mais os ritmos diferenciadores das crianças.

“Poderia” valorizar mais o ser, em vez do ter.

“Poderia” apostar mais no elogio e menos nos “resmungos”.

 

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publicado às 17:53


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De Magda L Pais a 14.11.2018 às 16:54

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