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Às vezes quero que as mil teorias vão para o sítio do Milhazes.

por Maria Joana Almeida, em 10.10.22

Hugo Van Der Ding.jpg

 

 

O despertador toca às 06h50. O alarme soa de imediato a pré-aviso para mais um provável dia de “despacha-te que vou chegar atrasada”. Acordar filhas, vestir, pequenos almoços e medir militarmente o tempo para largar uma filha às 08h e outra às 08h15. Pelas 07h50 lembro-me do artigo do Expresso sobre as palavras que não devemos dizer aos nossos filhos.  Percebo que é tarde demais. Segundo o artigo estou a traumatiza-las desde as 07h45. Primeira teoria falhada.

 

Falho a hora da segunda filha fintada pelos semáforos. Ela pede-me a música da Bluey mas, ao invés, aumento o volume da rádio que passa Rage Against the Machine para condizer com a minha alma. Dou um beijo a correr e respondo que a mãe não tem tempo para ouvir a história correndo de novo para o carro. Segunda teoria falhada.

 

No carro a ansiedade de estar já manifestamente atrasada para o trabalho mistura-se com a culpabilização de não ter esperado um minuto para ouvir uma breve história. Rezo para que as Montessori e High Scope desta vida possam valer-me para amenizar um possível trauma descrito pelos senhores do jornal.

 

Num intervalo para café passeio brevemente pelas redes sociais para lograr pesos laborais. Sou apanhada na rede do algoritmo que, por coincidência digital, invade o meu mural com dicas de boa parentalidade; de escolas alternativas; Mindfulness e nomes que enriquecem o meu léxico. Todos prontos a mostraram-me como consigo falhar grandemente todos os dias.

 

Ao voltar à escola cruzo-me com professores que em tom fatalista enumeram as dificuldades que têm em trabalhar com os “meus meninos especiais”. Recordo, primeiro (e novamente), que não são os “meus meninos”, são da escola. Recordo (novamente) todos os pontos positivos e áreas fortes de cada um dos alunos. Chamando-os pelos nomes na esperança que o rótulo faleça ali. A conversa termina. Cada um segue de novo o seu caminho, um meio indignado/vencido e eu francamente frustrada por encontrar tantas barreiras. Pela ironia do quase certo encerramento de escolas, como o Colégio Claparède, que conseguem respeitar mais a diversidade do que aquelas que são impostas por Decreto.

 

No caminho respiro fundo e tento que as teorias não façam mossa nas minhas convicções. Que continue a acreditar que pais felizes e realizados fazem os filhos felizes. E que isto, está acima de qualquer método. Que paredes de escolas com métodos vaidosos não se devem sobrepor às crianças. Que as teorias são apenas teorias. Que não há maratonas de melhores pais. Que os erros devem ser assumidos e não carpidos. E, acima de tudo, que tenhamos pensamento crítico dentro de avalanches ideológicas, por vezes, absolutamente unilaterais. Há também sabedoria e espírito alternativo quando respeitamos a individualidade.

 

Passado mais um dia de tanta teoria falhada e nas eternas paragens de regresso a casa quero, francamente, que as mil teorias que li vão para o sítio do Milhazes.

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publicado às 17:28


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