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A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
O título encaixaria na perfeição numa linha de Gustavo Santos ou numa qualquer passagem cliché de âmbito religioso. Mas não.
O título vem de uma história bonita. Uma história de amor. No verão, no quente de Monsaraz (o calor é sempre paradoxal, fica entre o lugar de amor e o insuportável) a Sílvia contou-me a história de um aluno. E a forma como a marcou ficou marcada na minha pele. Pelo arrepio e pelo calor. Ele disse-lhe. "Tu és diferente Professora. Tu és amor".
Esta história é um poema. De pessoas poema.
O “Zé”, o aluno, está no 2ºano. Tem dificuldades de aprendizagem. Não tem um vocabulário muito rico (diz o processo). E custa-lhe explicar-se.
O Zé não se apercebe da riqueza do que disse. De como a desarmou, de como me desarmou quando a história foi reproduzida. De como nos arrepiou. O Zé não soube naquele momento e talvez demore algum tempo a saber, ou talvez nunca vá saber, como em três palavras desenhou toda uma planificação. Toda uma metodologia.
A Sílvia é professora e é minha amiga há muitos anos. Falamos a mesma linguagem. A da educação e a da vida. A Sílvia tem muita formação. Todo um conjunto de técnicas e instrumentos estudados e guardados. É fundamental. Mas as planificações do seu trabalho não são desenhadas a régua e esquadro, não são guardadas numa folha de excel. São amor.
As (e os) professoras como a Sílvia são da linguagem de Coimbra de Matos “A ciência ou se faz com amor ou não se faz”.
Há um ano letivo a iniciar-se e com ele um conjunto de procedimentos iguais, mecânicos, gerais. Há as citações no final das apresentações iguais todos os anos. Há todo um comboio de lugares comuns associados, os necessários e os não necessários. Mas há uma autonomia moral que não pode ser esmagada pelo excel, pelas listas. O espaço intermédio entre o professor e aluno. O espaço desconhecido, o espaço para conhecer. O tempo. A reflexão. A disponibilidade. A tentativa e erro. A incerteza. O falhar. O voltar. O falhar outra vez. O acertar.
Não sei se haverá maior validação do que a frase do Zé para definir um professor. Para definir alguém. Mas se um dia um aluno me disser “Tu és amor”, terei mais certezas.