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A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
Por muito tempo que viva nunca conseguirei perceber o fundamentalismo, a vida a preto e branco. A falta de equilíbrio e bom senso. O definir a vida entre dois extremos. O querer viver sem cinzentos é um completo absurdo e um espaço de ignorância.
A escola e a esfera familiar não são, singularmente, detentoras da verdade nem antípodas. Não estão destituídas. É impossível. A escola educa.
À escola não cabe ensinar verdades absolutas, nem destituir verdades familiares. Apesar de todas as crenças, enquanto mãe, transmitirei, naturalmente, quer consciente ou inconscientemente a minha crença. À escola compete mostrar outras realidades. Mostrar a diversidade, viver a diversidade. Não existe para chamar a si toda a razão, existe como veículo de outras visões que são reais na nossa vida. A escola não quer, não tem de doutrinar, mas tem de educar para a diversidade.
Quando a escola mostra outras realidades respeitando a diversidade dos seus alunos está a fazer o seu trabalho. E bem. Quando alguém não tolera e age barbaramente está a exigir que a sua casa seja a única verdade. Quando a escola ceder, estamos perdidos.
Olá, bem-vindos aos bastidores da Educação Inclusiva. Este é um espaço sem manuais, sem remédios, sem carimbos, sem chapa 5, sem fórmulas certas e por isso este é o espaço certo. Os manuais e legislações já foram lidos, escrutinados, usados, são precisos no que escrever e no que selecionar e, por isso, tão incertos. São mais imunes ao nosso âmago. Terão tanto de surpreendente como de óbvio consoante as nossas histórias e vivências. Num manual é mais fácil operamos no geral e mais desafiante particularizar. Num Manual é fácil todos serem Manuel e Maria quando, naturalmente, não são.
Este não é um espaço para responder linearmente a perguntas, nem um espaço para tirar notas certinhas num papel e poder aplicar na Escola. Isto não é um exame.
Nos bastidores estou eu e o outro, sem formalismos, sem soberba, sem assunções. Apenas duas ou mais histórias à espera de se cruzar. Nos bastidores é onde se alinha a peça para brilhar ou cair no palco. Não desanimemos com a segunda opção. Cair também é aprendizagem.
Vamos pôr os pontos nos “is”. Nada na vida é “by the book” ou se é, podendo naturalmente ser um caminho, não pode ser chamado vida. Morreu à partida na perda de genuinidade. Educar by the book não é educar. Aplicar medidas no âmbito da educação inclusiva by the book é tão entusiasmante ou tão estéril como tratar de um qualquer assunto na segurança social.
Evitemos o óbvio. Centremo-nos em nós, nos outros. Por instantes saltemos diagnósticos, listas, currículos, aprendizagens essenciais, computadores e avaliações. Concentremo-nos nas histórias. Nos bastidores.
C10H14N2 é uma expressão a reter, não enquanto expressão química da nicotina, mas enquanto peça escrita por Sandra José e apaixonadamente interpretada por Gonçalo Lello que esteve recentemente em cena na Casa do Coreto em Carnide.
Há muito tempo que não via uma peça, e há muito tempo que não via uma peça tão bem escrita e principalmente tão bem interpretada. Sozinho, o Gonçalo consegue preencher a sala. É o cancro, é a Margarida, é o amor, o humor, a luta, a angústia, o escárnio, o peso.. Consegue tocar em cada um de nós. As palavras voam. São sentidas, são inteligentes, são cheias. É um belíssimo texto.
Tive de conhecer o ator.
O Gonçalo é ator há quase 20 anos. Foi atrás do sonho. E ainda bem. Move-se por paixão, por princípios, por valores, pelo seu código pessoal e intransmissível. É nostálgico, atento, intenso, generoso. O Gonçalo percebe-se nesta peça.
O texto merece ser ouvido, o Gonçalo merece ser visto. Como um imperativo cultural.
Obrigada por esta entrevista.
Conheci este texto há cerca de 8 anos, através do Teatro Rápido, no Chiado. Uma versão curta (15 minutos), do texto original e integral de C10H14N2. Adorei o tema da peça, amor/desamor, perda, doença terminal, doença do coração, da mente... Fiquei maravilhado com a carga e força das palavras escritas pela Sandra José e pela óptima interpretação, na altura, do Rodrigo Saraiva. Fui ver a peça várias vezes. Como primeiro desafio para um monólogo, este texto seria sempre a minha escolha. Sou um privilegiado poder conhecer a escrita da Sandra José. E agora, poder dizê-la.
A minha geração, nasci em 73, foi educada para “tirar uma licenciatura para ser alguém na vida.” Foi o que eu fiz, meio aos tombos e sem grandes certezas sobre o quereria de facto. Na altura não haviam workshops. Assim que obtive a minha independência financeira, depois de ter entrado no mercado laboral, na área do marketing, percebi que havia uma coisa apenas que era certa, só vivemos uma vida. Eu teria de viver a vida que eu queria viver, e não a vida que sonharam para mim. Não foi uma decisão fácil, ainda hoje não sei se foi a melhor escolha, mas foi a minha escolha, a minha vontade e o meu sonho. Agradeço muito a importância e apoio do meu anjo da guarda, a Ana Brito e Cunha, da mãe da minha filha Beatriz, a Maria João e como não poderia deixar de ser os meus pais, o meu ministério da cultura. Li um dia há muitos anos uma ideia de um escritor e filósofo americano, de seu nome Ralph Waldo Emerson que dizia o seguinte: “Rir muito e com frequência, ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afecto das crianças, merecer a consideração de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos, apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros, deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma saudável criança, um canteiro de jardim ou uma redimida condição social, saber que ao menos uma vida respirou mais facilmente porque existis-te. Isso é ter sucesso.” Ainda acredito nisso.
O Gonçalo (a pessoa e o actor) existe sempre em qualquer trabalho. Nós somos a roupagem à criação das criaturas que irão dar origem e vida às personagens. Em qualquer trabalho há sempre, ou acredito haver, o fascínio da descoberta e aprendizagem. Em teatro, como actor interessa-me mais esse trabalho, porque é maior o trabalho e disponibilidade. Há mais tempo. “Temos sempre tempo, quando temos tempo.”
Foram muitas as personagens e foram algumas as peças que me influenciaram, assim como filmes e realizadores. Mas o que mais me influencia são os actores. Adoro ver bons actores a trabalhar. E nisso tenho tido sorte e procuro muito essa fortuna. Saliento alguns exemplos: Mário Viegas, António Feio, Filipe Duarte, Dinarte Branco, Rita Loureiro, Albano Jerónimo, Isabel Abreu, José Raposo, Maria Joâo Luis, Miguel Borges, Sandra José, Sofia de Portugal, Ana Brito e Cunha, Maria Rueff, Eduardo Frazão, Beatriz Batarda, João Lagarto, Rui Melo, Rui Luis Brás, Joana Brandão, Nicolau Breyner, Nuno Lopes e Carla Galvão. E nos estrangeiros: Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Débora Falabella, Meryl Streep. Alexandra Lencastre ... tantos. Al Pacino, Peter Sellers, Marlon Brando, obviamente. O que me importa como actor, não é a carreira, é fazer bem o meu trabalho. Ser leal com a minha profissão. Ser um ser educado, consciente do mundo que me rodeia, conseguir questionar e tentar passar mensagem. Fazer o outro pensar, ou apenas divertir-se. É essa a minha responsabilidade. Se sentir que o que estou fazer está certo e que está a ir a um determinado lugar e que faz sentido persisto, eventualmente as coisas acontecerão. Eu não me arrependo de nada. Sinto que cometi o que chamaria de erros. Escolhi o projecto errado ou não persegui determinado personagem, mas tudo o que faço é parte de mim e só eu irei obter algo disso. Eu acredito num dia de cada vez; tenho HOJE, é isso que eu tenho. Estou mais vivo no teatro do que em qualquer outro lugar, mas o que levo para o teatro, eu recebo-o das ruas. Nunca estarei sozinho se tiver um livro.
Como actor e público, é-me indiferente ter um ministério da cultura ou uma secretaria de estado. O que importa é haver investimento orçamental na cultura em Portugal. Andamos há 40 anos a lutar por 1% para a cultura, quando deveríamos ter um mínimo de 5%. A cultura e as artes em geral são também produtos vendáveis. E quando digo vendáveis, digo de exportação. A cultura e o acesso à cultura, às artes, deve ser para todos. É um direito. Assim como a educação. É na escola que podemos iniciar a construção de novos públicos. Instruir melhor através da obrigatoriedade do ensino da expressão dramática. Dá novas dinâmicas, liberta ansiedades, faz ganhar a confiança e instrui e passa conhecimento. Daí, para mim, ser primordial haver um super ministério, Educação e Cultura.