Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
Já não tenho avós. O avô Augusto foi o avô com o qual vivi, ainda alguns anos, como sendo o único. Faleceu em 2015. O avô "poeta" de olhar doce. Nunca vou esquecer o dia antes de falecer. Ouvi a sua voz ao telefone na véspera de apanhar o autocarro para o ver. Indescritível o que senti quando o ouvi e a mágoa por não ter conseguido vê-lo a tempo.
A minha avó Celisa era a matriarca. Os braços que abraçavam toda a aldeia onde vivia. Esta aldeia. Um pilar incontornável para todos. Justa, decidida, forte, mulher de não pedir licença para o trabalho. Uma Padeira de Aljubarrota, uma Joana d'Arc. A aldeia era a minha avó.
A avó Emília e avô Manel (Vupa), avós paternos, faleceram quando eu era mais pequenina. Moravam ao lado de Barreiros, em Vila Nova, numa casa que para mim era no meio da floresta. Na altura queria muito brincar e sei que não passei o tempo que devia com ambos, nem lhes consegui dar o valor que mereciam. Hoje olho para trás e sei, consigo sentir aquele amor incondicional. Era a única neta menina da parte do pai.
A minha mãe diz que a avó Emília e o avô Manel eram muito apaixonados um pelo outro e eu acho que sentia isso. Ele era alfaiate e um homem muito bonito. Na foto que tenho dele, quando era novo, gosto de acreditar que tenho semelhanças com ele. Envaidece-me.
A avó Emília era despachada e muito doce. Recordo-me dela a rir, com olhos azuis muito bonitos, figura alta e magra. Defendia-me sempre, sempre. Era a menina. E o meu avô, se a bondade tivesse um rosto, era o avô "Vupa".
Os meus pais ficaram com a casa dos meus avós maternos, mesmo no centro da aldeia em Barreiros. Está remodelada mas ainda cheira aos avós.
Esta aldeia, toda Viseu, é também a minha casa. As memórias de infância vêm dali, das casas dos avós, separadas por um quilómetro que fazia ora a pé, ora de bicicleta (mal porque tinha uma subida chata) ora de carro. Os primos que faziam de irmãos, o contacto com os animais, a matança do porco, as galinhas, os coelhos, aquelas coisas PAN – distantes, mas contextualizadas. Tive essa sorte. A menina da cidade que ia à aldeia nas férias e que me ajudou a um maior equilíbrio.
Subi às árvores, caí muitas vezes de bicicleta (irritava-me não saber andar tão bem como os meus primos) fugi dos porcos e levava a burra com o meu avô de Vila Nova a Barreiros e vice versa. Era mais medricas, era. Mas as férias de verão ajudavam a “enrijecer” especialmente a autoestima. O amor da família é daqueles que nos constrói muito. A casa dos meus avós, em Barreiros, por ser mais central, tornava-se, para mim, o centro do mundo.
A minha avó obrigava-nos, da maneira mais impossível de negar, a ir à missa ao domingo de manhã. Situação à qual acedíamos para (às vezes) a meio fugir e ir ver o Dragon Ball. Eu sabia que Deus perdoava (embora às vezes tivesse dúvidas e por isso reforçava as orações à noite que repetia sem perceber muito bem o que dizia). A minha avó só cozinhava as coisas que os netos gostavam e não deixava os pais ralharem connosco embora nos chamasse também a atenção, daquela forma que os avós chamam. Era apaziguadoura, doce com os netos, assertiva e mulher de pontos nos “is”. Destemida.
O Miguel Esteves Cardoso escreveu numa crónica: “Os nortenhos são honestos, sinceros, directos, bem humorados e generosos. Não se importam de ser desconcertantes. Dizem o que lhes vai na alma e incitam-nos a fazer como eles, a sermos livres.(...) No Norte são as pessoas do Norte que nos endireitam. Quando comecei uma longa descrição do vinho que eu queria o empregado exasperou-se: "já está a complicar muito, porra! Fique-se com esta garrafa e não me fale mais de vinho". Sem qualquer soberba, ou presunção percebi-o perfeitamente. É o que sinto.
Tenho um orgulho enorme quando digo que a minha família é toda de Viseu. Tenho um orgulho enorme na minha família. Herdou (herdámos) valores que prezo. É uma família da verdade, dignidade e do correto. É também aquela que me consegue pôr a rir como mais ninguém.
Lisboa tornou-se a minha cidade. Gosto de ir ao Amélia, ao Choupana. Aos festivais de cinema francês, italiano e o diabo a sete. Gosto de músca indie, alternativa, gosto jazz e sinto-me bem nestes ambientes. Acabaram por ser uma casa, mas não há nada comparado ao sentimento de pertença na casa cheia dos meus avós com muita comida, abraços, histórias, e as descomplicações, o direto e o honesto. O focar no que é realmente importante.
Vou poucas vezes à minha outra casa, menos do que gostava, mas é lá que também me endireito e é lá que também foi construído "aquele" pilar que me faz sentir bem no resto.
PS: Foto tirada este domingo perto de casa dos meus avós agora nossa.
“- Foi a Rosa que me curou.
– Pelo amor?
(in Documentário “Pára-me de repente o pensamento” de Jorge Pelicano)
“Passeava” pelas redes sociais quando me deparei com um artigo do jornal Público que falava de um “Manicómio”. Prendeu-me, naturalmente, de imediato a atenção. O video que acompanhava este projeto ainda mais.
Sou particularmente sensível a este tema. A minha vida profissional passa e está ligada à saúde mental e aos desafios constantes que propõe. Não é um mundo para falsos moralismos, muito menos para certezas e ainda menos para caridade. É um mundo de constante reflexão, de olhar olhos nos olhos e, de por vezes, bater com a mão na mesa, mas intenso demais para nos permitir fechar os olhos ou virar as costas.
Este projeto é obrigatório conhecer. Parabéns aos seus criadores.
1 – Quando li sobre este projeto o primeiro pensamento que tive foi “É o melhor nome de sempre”. É uma metáfora direta, um nome provocador, destemido e desamarrado da expressão “andar com paninhos quentes” para não ferir suscetibilidades. Que manicómio é este?
É isso tudo, é provocador, destemido, irónico, desafiador e é um sitio de liberdade.
Onde se contam historias verdadeiras de vida, desafiando a arte, procurando a honestidade e autenticidade.
2- Quem são as pessoas que “habitam” este Manicómio? Quem eram e quem são?
São pessoas, depois artistas e no fim com experiência de doença mental.
Alguém que produz arte pela necessidade. Sem conotação social ou económica.
A arte é honesta e autentica ( repito estas palavras, porque são a nossa razão de ser )
É a Claudia e a Anabela, O Pedro e Carlos, o Sandro e o Filipe, o José e a Joana,
Braulio e o Ze, a Barbara e a Cataria, o Fernando e Joao.
Esta é a equipa Manicómio, somos todos, sem rótulos
3 – Há uma frase que me ficou na memória, quando ouvi parte da tua entrevista para o jornal Público, provavelmente pela marca que ficou do início do meu percurso profissional, que é “São 4 anos de dignidade não são 4 anos de folhas A4”. Consideras que ainda vivemos, nesta área, de muitos projectos e caixinhas mentais com limites bem definidos, como numa folha A4?
Completamente, não só na saúde mental ou arte, em praticamente todos os projectos de invocação social ou instituições publicas.
O investimento da pessoa, enquanto pessoa, é pouco ou nenhum.
A Pessoa é o mais importante na nossa premissa e visão, no investimento social e artístico, na dignidade, e na igualdade ( ponto fulcral ).
Não usamos a pratica da caridade ou ajuda. Acreditamos num ponto de igualdade social, pessoal e laboral.
Quando uma marca nos procura para uma “ajuda” nos desafiamos sempre, repito sempre, em intervir nos seus produtos ou suportes que utilizam. De uma forma artística, trabalhos os seus suportes e se a nossa criatividade for coerente para a marca, então ai avançamos com um produto que ambos ganhemos. Só assim faz sentido.
As folhas A4 são muita das vezes, bafientas, rígidas e controladoras.
As instituições tem que perceber, que as pessoas que frequentam os seus serviços, não os pertencem. São pessoas livres, que escolhem frequentar aquele serviço.
Por vezes, confunde-se a relação técnicos - doente.
4 – Quais as motivações que te levaram a lançar este projeto. Que sensibilidades existiram e quais os principais desafios que identificas?
Já devia ter sido a bem mais tempo, mas todos os projectos que trabalhamos, ( Contentores, Billboard projecto, Pavilhão 31, Pavilhão 28, Manicómio e muitos mais ) a nossa equipa somos apenas duas pessoas. Eu e o Jose Azevedo.
Manicómio era uma grande necessidade nossa. Queríamos criar um espaço, onde se trabalhasse arte com a maior dignidade, honestidade e autenticidade ( la veem estas palavras ). Começamos a trabalhar, e rapidamente tínhamos as condições para abrir este projecto. Inicialmente num espaço apenas nosso, que seria um erro grande.
Pensamos que se estivemos isolados, poderia cair no erro de ser mais um Julio de matos ou miguel bombarda. O isolamento não seria correcto, então, falei com o Fernando Mendes, amigo de longa data, pessoas extremamente sensível e criativa.
Falamos e cá estamos. Inseridos no Now - Beato ( não lhe vou chamar cowork ) é bem mais do que isso. É uma família, um espaço em constante mutação, criatividade e respeito. Tem sido brilhante a ligação.
5 – A saúde mental continua, infelizmente, a ocupar um espaço menor na saúde. Os estereótipos e preconceitos ainda estão algo presos “numa folha A4”. O que falta, no teu ponto de vista, construir no nosso percurso educativo para que possamos finalmente trabalhar lado a lado, sem paternalismos ou condescendências com estas pessoas?
Falta muito coisa, como referi em cima, falta olhar para o doente como pessoa.
Equilibrar as relações paciente-medico, investir em conceitos de igualdade, promover empregabilidade.
O paternalismos haverá sempre, assim como o estigma.
Criar bases as nossas crianças nas escolas, para uma melhor aprendizagem numa doença. ( estamos a trabalhar nisso )
Linhas de apoio para projectos que possam inovar nestas áreas, onde a experimentação não possa ser penalizada.
E, claro, tratar estas pessoas, como pessoas.
Conheci o José recentemente, através de amigos em comum. É inteligente, empático, bem resolvido e um bom escritor. É da ala dos mal comportados com um discurso bem humorado, acutilante e provocador, algo displicente em relação a si própio e por tudo isto um homem muito interessante.
É ler a entrevista.
(Obrigada Zé)
1 – Olá José. Estava aqui a tentar pensar qual seria a melhor pergunta para começar esta entrevista, mas honestamente, aquilo que me ocorre perguntar é: Zé, conta-me a tua história.
R: A história não é curta, mas vou tentar abreviar. Comecei a escrever ficção ainda na escola secundária. Na altura havia um suplemento literário no Diário de Notícias, o “DN Jovem”, e foi para lá que comecei a mandar histórias, que entretanto eram publicadas. Fi-lo durante anos, até à idade limite do suplemento, os 26 anos. Tempos depois publiquei o primeiro livro, os contos “A Casa do Fim”. Entretanto, tinha feito a licenciatura em Agronomia. Comecei a trabalhar como engenheiro agrónomo, e esse contacto com o campo fez-me continuar a escrever histórias rurais. Seguiu-se o romance “Breviário das Más Inclinações”. E depois vieram outros livros. Pelo meio fui escrevendo em jornais e revistas, desde a Visão, Grande Reportagem, O Independente. Actualmente, faço crítica literária no jornal Público. Depois de vários anos sem publicar, mas não sem escrever, em 2018 foi editado “O Escuro Que Te Ilumina”, um romance erótico suportado pela história de um amor incondicional e que acho ser um “amor feliz”, e que foi muito bem aceite pelos leitores.
2 – Quem te segue nas redes sociais percebe que a imagem tem um peso determinante. Brincas, inclusivamente dizendo, de forma sarcástica, que o “interior e ter saúde é o que interessa”. Esta importância é também um legado da tua história. Como olhas para o conceito beleza?
R: Isso tem muito a ver, como dizes, com a história da minha vida, e com a importância que damos à imagem. Para as mulheres é ponto assente que a imagem que passam é de grande importância. Mas penso que durante muito tempo os homens não quiseram aceitar, ou sequer pensar, que a imagem deles é também de grande importância para as mulheres, embora muitas delas ainda não o consigam assumir e se refugiem naquela justificação tonta da “beleza interior”. No entanto, passam a vida a actuar e a referirem-se entre elas aos “gajos giros” a propósito de tudo, e a primazia das suas escolhas em termos sociais, sublinho o “sociais”, recai sempre nesses, quer seja para ir beber um copo, um café, para uma noitada, para uma ida à praia, para aparecer socialmente em jantares. Os outros são de segunda linha, ou de segunda escolha (risos), para quando os primeiros mostram não ser assim tão bons como os imaginavam. Note-se que não me refiro aqui a relações amorosas, aí as coisas são diferentes, há outros factores que pesam. Este é um movimento quase inconsciente – os homens fazem obviamente o mesmo mas não têm a pressão social para não o assumirem. Se eu puder sair com uma mulher bonita não saio com uma feia, ponto final. No caso das mulheres, assumir sem mais nem menos o desejo físico – como os homens o fazem – não é ainda uma coisa muito comum, têm a necessidade de o justificar ou disfarçar com outros factores: amizade, inteligência, bondade. Mas todos sabemos que não é isso, que essas são apenas justificações criadas para um certo disfarce. Eu demorei um bocado a perceber isto porque ia acreditando no que me diziam sobre a primazia da “bondade do coração”, enquanto ao mesmo tempo elas se enrolavam com outros gajos mais giros (risos), dando-me justificações sem sentido para não “beberem um copo” comigo. O meu último romance é, assim, também uma espécie de catarse desses anos, uma espécie de tentativa de apaziguamento com a vida e com a minha anterior “ingenuidade” em acreditar no que me diziam. Depois tive que mudar a aparência, e as minhas novas ideias sobre isto confirmaram-se (risos). Era mesmo e apenas um problema de imagem.
3 – O teu recente livro “O escuro que te ilumina” é um dos candidatos ao Prémio Livro do Ano Bertrand 2018. É um livro que trouxe algum “desconforto” e que não foi consensual. O que te deu mais prazer na escrita deste livro? As críticas tiveram algum eco em ti?
R: Estou habituado à crítica, também a faço no jornal. Lido muito bem com ela, sempre lidei. Acho que o importante quando se publica livros é nunca tirar os pés do chão com os elogios nem nunca cair com as críticas. As opiniões são o que são, e por isso sempre relativas. Muitas vezes têm muito mais a ver com quem as faz do que com o objecto em si. Eu sabia que este livro não iria ser consensual, pelo tema e pela escrita. É um livro “mal-comportado” dentro do panorama da literatura portuguesa actual, que aborda coisas mais escuras, quase secretas, coisas que guardamos nas nossas fantasias, cenas que não se expõem. Mas esse foi um dos motores da minha escrita, iluminá-las um pouco. Não acho, longe disso, que seja um livro pornográfico, para mim é uma bonita história de amor. O desconforto que tenha provocado, sobretudo em alguns homens, e pensando agora nisso, acabo por o entender. O livro põe em causa uma certa ideia de masculinidade. As mulheres gostaram muito mais do livro porque têm muito mais poder de imaginação e de fantasia.
4 – Os “escuros”, os nossos “escuros, são no teu entender o balanço inevitável para o nosso dia-a-dia rotineiro e aquilo que tornam a pessoa mais interessante, mais completa?
R: Os nossos “escuros” são os lugares de onde vem a nossa vida. Eles moldam-nos, condicionam ou provocam as nossas acções, a maneira como olhamos para a vida. Esse escuro, muitas vezes sobre a forma de inconsciente, por vezes parece muito mais inteligente do que nós porque nos vai dirigindo, dando sinais da direcção que devemos tomar. Torna-se um problema quando não o conseguimos ler, quando nem sabemos que ele existe. A tarefa da psicanálise, por exemplo, é tornar esse escuro consciente para que possa ser pensado, lido, arrumado. De uma certa maneira, mas obviamente em menor grau, a escrita faz o mesmo. Escrever ficção é também enfiar os dedos nessa matéria escura e trazer alguma coisa para a luz, para que ilumine mais um pouco.
5 – A literatura faz parte do processo educativo de todos nós. Sendo este um blog em que o tema central é a Educação é inevitável colocar esta questão, uma vez que também foste professor. Como vês a Educação do nosso país? Onde estamos e para onde caminhamos aos teus olhos?
Fui professor durante muito pouco tempo, de matemática e de ciências naturais, acho que era assim que se chamava. Depois também dei aulas, mas a um outro nível, coisas mais científicas, mas a adultos. Ando um pouco afastado dos temas da educação, mas tenho notado em como a escrita, o modo de escrever, se tem deteriorado. Não me refiro apenas a como se escrever mas ao léxico usado. Em pouco mais de vinte anos parece-me que o nosso vocabulário comum diminuiu bastante. Isso nota-se não apenas na vida do dia-a-dia mas também na literatura que se escreve hoje, nos autores mais novos. A escola deveria ter também um importante papel nisso, e só há uma maneira de fazer isso: incentivar muito a leitura, e não apenas de livros mais recentes, mas sobretudo dos clássicos da nossa língua. Acho que esse retorno é imprescindível.
A propósito de um texto de uma amiga minha (que partilho aqui no final deste texto) tive uma discussão/reflexão sobre a dicotomia entre a escola que educa e a escola que ensina. Se há algum tempo atrás considerava que existia uma linha clara de separação entre ambas atualmente acho muito pouco provável ou se não impossível colocar ambas em caixas absolutamente separadas.
Há atividades que são da escola e não da família? Há. Há atividades que são da família e não da escola? Também. Mas também há um espaço onde inevitavelmente ambas se tocam e não há nenhum problema com isso.
Um dos projetos mais interessantes implementados nas escolas é o Desporto Escolar. Este projeto permite a todos os alunos a possibilidade de poder experimentar vários tipos de desporto. Modalidades que, em muitas situações, milhares de alunos não poderiam experimentar. Não seria bom serem experiências em família? Sim. Mas se por um lado permitem vivências que poderiam não ter espaço no seio familiar permite, por outro lado, criar o gosto por determinada modalidade e continuar através da família.
Aprender a andar de bicicleta faz parte das memórias infantis de muitas crianças. Eu aprendi a andar de bicicleta com o meu pai. O meu tio tinha-me oferecido uma BMX encarnada e cansava o pai rua abaixo, rua acima. Não foi fácil, ainda tive de usar quatro rodas por algum tempo, até que duas finalmente bastaram. Recordo-me destes momentos e recordo-os em família. Mas eu tive a sorte de me terem oferecido uma bicicleta, dos meus pais o poderem fazer e de saberem a importância de promover esta aprendizagem e de outras sem ser preciso o empurrão da escola.
Na escola lêem-se histórias e isto não retira os momentos de ler histórias em família, complementa, e em muitos casos promove esta atividade. Recordo-me bem da reciclagem, a escola foi o principal meio de educar para uma utilização mais responsável e trouxe para casa de muitas famílias esta consciencialização.
A escola é responsável, por inerência, de educar para uma sociedade mais responsável devendo ser cada vez mais um espaço de reflexão e pensamento crítico (tenho dificuldade em pensar a escola num espaço que apenas transmite conhecimentos). Não pretende, nem deve pretender sobrepor-se a momentos que devem ser de família mas sim a potenciar e a complementar aprendizagens que também são em família.
Numa sociedade que apregoa mais sustentabilidade, uma forma de vida cada vez mais saudável e onde em cada vez mais locais se fomenta a utilização de bicicletas como meio de transporte diário, inclui-la no currículo não nos deverá chocar ou fazer achar que rouba aprendizagens que devem ser no seio familiar. Por essa ordem de ideias quantas atividades e experiências teria a escola de se negar a fazer diariamente por poderem ser consideradas atividades de família. E quem traça o limite? Não existe porque há, naturalmente, um espaço comum. Aquele espaço que coloca escola e família de mãos dadas pois são ambas, no seu equilíbrio e complementaridade que educam uma criança.
(https://www.publico.pt/2019/03/31/sociedade/opiniao/criancas-bicicletas-escola-liberdade-1867458)