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Eu também quero dizer o que acho de Conan Osíris

por Maria Joana Almeida, em 22.02.19

conan.jpg

Assim como a Escola é um espaço para todas as crianças, o universo musical, tem de ter espaço para Conan Osíris. Este blog tem.

 

Simpatizei de imediato com o nome da música “Eu adoro bolos”, por razões óbvias para quem me conhece. Já não posso dizer que simpatizei com o estilo. Aliás não era uma questão de simpatizar ou não. Simplesmente não percebia o que estava a acontecer.

 

Assisti, em modo piloto automático, ao apuramento dos primeiros finalistas para o Festival da canção. Estive verdadeiramente entediada nas primeiras cinco canções, até que apareceu Conan Osiris. Olhei para a televisão com o sobrolho meio carregado a rodar ligeiramente a cabeça (aqueles esgares semelhantes quando numa galeria de arte vemos algo tão abstrato achando que se calhar não estamos a olhar na rotação correta). Fiquei meio sem saber o que dizer, mas a verdade é que quis ouvir mais vezes, por vários motivos: para perceber a letra (qual cubo de Rubik, qual música de Rui Reininho) e para ver o espectáculo cénico. Depois li várias entrevistas. O rapaz deixou-me de facto curiosa.

 

Conan Osíris é como uma ilusão de óptica, nunca sabemos bem o que estamos a ver e quando o queremos rotular já o rótulo é outro. E eu acho isto fantástico.

 

Disse, numa das suas entrevistas, que não percebia o conceito “guilty pleasures” verbalizando: “Se eu gosto porque é que tem de ser guilty? Porque não o assumo?”. Eu bato palmas de pé perante esta afirmação e quase (quase) me apetece dizer publicamente todos os meus “guilty pleasures” (só que não).

 

Devo dizer que o rapaz foi uma lufada de ar fresco no meio daquelas músicas tão bem comportadas e iguais. E a letra parece ser mais complexa do que à partida pode fazer crer não fazendo assim do rapaz um bluff

 

Seinfeld também era um programa sobre nada e sobre tudo do nosso dia-a-dia e foi a melhor série de comédia de sempre.

 

Como dizia a uma amiga minha “Ele parece aquelas desconstruções da comida típica portuguesa num restaurante gourmet”. Um misto de António Variações, passando por Paulo Bragança com kizomba e batida electrónica à mistura falando sobre coisas corriqueiras que são momentaneamente elevadas a arte abstrata. Tudo “guilty”, tudo legítimo.

 

Ainda estou meio confusa, mas não ponho na borda do prato.

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publicado às 16:10

1 ano.

por Maria Joana Almeida, em 12.02.19

maria luisa 1.jpg

 

 

Aconteceste e foi muito bom. Uma notícia muito feliz.

A mãe assustou-se um pouco. O pai muito.

A mãe não disse nada durante três dias. Estava a pensar.

Estava a pensar naquilo que parecia um milagre e que vinha como um tremor de terra, daqueles que abanam o nosso corpo, especialmente a nossa cabeça.

O pai foi fazer surf no dia em que soube. O mar sempre foi para ele um amigo. Num determinado sítio mais distante da terra, sempre ajudou a encaixar peças mais devagarinho.

A mãe ficou na areia a olhar o mar. O sol também ajuda a encaixar peças.

A barriga foi crescendo assim como o coração que ora aumentava ora encolhia. Estava confuso.

O pai também. O coração dele andava acelerado e a cabeça também.

 

 

A mãe estava bonita diziam. Cabelo forte, pele brilhante, barriga bonita e sorriso gigante.

O pai continuava confuso. A mãe estava diferente.

 

Mexeste pela primeira vez. Era Setembro. A mãe estava sozinha num mês em que o coração estava pequenino. Mas esse dia foi o dia de Setembro em que o coração ficou grande, muito grande. O pai tinha de saber. A mãe gostava de dizer ao pai quando o coração estava muito grande porque ficávamos felizes.

 

Os meses foram passando. Era quase Fevereiro. E tu, estranha criatura (estranha porque não nos conhecíamos ainda) arrancavas muitos sorrisos e algumas noites sem dormir (a barriga já era muito grande).

Ainda na barriga sentiste tudo isto e sentiste muitas peripécias. Sentiste o coração ora grande ora pequeno da mãe. Muitas vozes. Muitos silêncios também…

 

 

No final de janeiro começaste a dar sinal.

 

Dia 11 de Fevereiro a mãe ligou ao pai. O pai era do surf mas também do BTT. O pai arrancou a grande velocidade. Caiu e tudo (está filmado na GoPro) e fomos ao hospital.

Ainda não era. “Vai ser no dia de Carnaval” dizia a enfermeira.

E foi.

 

 

Houve duas Joanas que te ajudaram a nascer e uma médica, a Graça, com antenas de joaninha (porque era Carnaval) que te tirou.

E tu pequena-estranha-criatura-muito-bonita-desde-o-momento-zero, vinhas de olhos bem abertos com a inevitável expressão esbugalhada “O que é isto?”.

Eras uma pequena estranha criatura bonita (estranha porque nos íamos agora finalmente conhecer), muito bonita de cabelo farto e olhos grandes.

E começou a aí outra história. O samba de Maria Luísa.

O coração que passava de grande a pequeno (mas sempre grande) muitas vezes ao dia, durante vários dias, encontrou uma nova forma.

 

 

 És a Maria Luísa a cabeluda, que já tem um ano. Que faz beicinho quando dizemos “não”, que diz “gato” com uma uma total convicção nas duas sílabas, que não aguenta ver o outros comer e ela não, que mais houvesse e comeria. A que não passa sem a fralda no rosto para dormir, que já dorme a noite toda (graças a Deus!) a que abana o corpo e a cabeça ao som da galinha põe o ovo, a que durante meses foi igual ao  velhote do filme UP quando começava a chorar, a que faz as delicias dos avós e a que fez a mãe gostar de cor de rosa e escrever textos como este.

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publicado às 15:16

Às vezes é de loucos.

por Maria Joana Almeida, em 10.02.19

 

teacher yes.jpg

Dificilmente poderia encontrar imagem que melhor ilustra o “forrobodó” (eu sabia que iria conseguir usar pelo menos uma vez esta expressão que tanto estimo num texto) que pode ser uma escola, especialmente uma sala de aula. Não falo de indisciplina que já se tornou um lugar comum em todas as escolas e inunda textos da especialidade onde habitam já vários receituários. Falo das situações caricatas, das situações que colocam episódios do Seinfeld ou do Gato Fedorento a um canto.

 

As coisas que aprendemos nos livros são meramente orientadoras, gerais e tendem, naturalmente, a responder a padrões específicos. Tentam ser cientificas em algo que é, na maior parte das vezes, um caos aleatório. A quantidade de vezes que visitamos sítios novos dentro de nós para tentar no imediato responder com sentido ao que está a acontecer torna-se quase a norma. É como quando estamos habituados a ver filmes com um caráter intelectual muito elevado que só nós é que percebemos. Habituados a compreender a linguagem de Manuel de Oliveira deparamo-nos de repente com o universo do Bucha e Estica e dos filmes de série Z que confundem mais o cérebro do que um filme de Emir Kusturica ou David Lynch.

 

A primeira vez que se pisa uma sala de aula é equiparado a tapar a cara num filme de terror, mas a espreitamos curiosos por entre os dedos. É exactamente isto. A exposição, as inseguranças, o processo do pára-arranca, equilíbrio-desequilíbrio até encontrar o começo leva-nos a lugares desconfortáveis e a interpretar papéis que não queremos e com os quais não estamos familiarizados. É tudo normal. É mesmo assim.

 

É neste ponto de equilibiro que começa o ponto de partida, quando as defesas baixam e quando começamos a desempenhar o papel que nos carateriza. É também neste momento que começamos a ser todos atores do mesmo filme. E cada final de ano é um novo livro que poderia ser trabalhado na Universidade.

 

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publicado às 00:22


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