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Eu sou uma pessoa que... Não sou racista mas...

por Maria Joana Almeida, em 23.01.19

racista mas.png

 

Inúmeras vezes usei a expressão “porque eu sou uma pessoa que..” é muitas vezes inevitável e de fácil acesso, numa conversa, para individualizar um determinado comportamento. Como se o facto de ser uma pessoa teimosa, assertiva, de colocar os pontos nos “is”, muito amiga dos seus, de pavio muito curto fossem caraterísticas inteiramente pessoais e intransmissíveis. Qualquer pessoa “é uma pessoa que” em determinadas circunstâncias e em determinados contextos.

 

Há um outro clássico muito comum. Quando alguém pergunta: “Sempre foste assim?”, “Sempre quiseste cantar?” ouvem-se as mais inesperadas respostas: “Sabes que eu já vestia a roupa da mãe do pai e já cantava e dançava Pina Baush quando era pequena. Já falava chinês, já falava japonês, já me punha em bicos de pés.” porque estas experiências parecem ser, de repente, raramente comuns na infância. Há uma necessidade de nos querermos sentir especiais e aproveitar determinados momentos para nos remetermos a um espaço de tempo onde tudo o que fazíamos era único.

 

E depois há a outra frase. “Eu não sou racista mas..” igualmente usual (infelizmente): “Eu não sou racista mas que mereciam mereciam”, “Eu não sou racista mas não queria que o meu filho/a namorasse um preto.” “Eu não sou racista mas que roubam roubam”.

 

Dizer que é preciso travar o racismo e educar os nossos alunos para o erradicar é quase tão sensaborão como ouvir a Miss Universo dizer que quer paz no Mundo. Claro que é preciso. Mas também é preciso assumirmos os nossos preconceitos mais do que fazer de conta que não os temos. Porque a verdade é que só conseguimos travar aquilo que conhecemos bem e quando deixamos de mascarar as nossas fragilidades.

 

Numa sociedade onde ainda precisamos de um Manual para a Inclusão percebemos o quanto ainda estamos longe de aceitar o que achamos ser diferente.

 

É mais fácil combater o racismo quando eu assumo o preconceito mas me mostro disponível para conhecer e desconstruir estas ideias pré concebidas. Porque, num panorama politico, é tão perigoso quem diz “Eu não sou racista mas..” de quem sentado num espaço imaculado e propositadamente longe de qualquer bairro multicultural afirma “O racismo é inadmissível e  tem de terminar”

 

Só quando tomarmos consciência de nós, sem medos, mas cientes do valor humano, do valor social acima de qualquer outro valor, é que deixaremos de ouvir “porque eu não sou uma pessoa racista, eu já desde pequenina que brincava com meninos de cor “ e passaremos, mais do que a ouvir, a observar em paz, a pluralidade sem fronteiras.

 

 

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