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A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
Há pessoas na vida que basta conhecer uma vez para criar uma empatia enorme. Há pessoas que ficamos anos sem ver e quando vemos nada mudou e mais se construiu. A Joana Sá Machado é assim.
Conhecemo-nos através do seu primo, meu colega na Faculdade, no cinema para ver o “Torre Bela”. Estivemos vários anos sem ter contacto até que há cinco anos atrás foi como se retomássemos a relação de amizade que ali tinha começado.
É difícil encontrar pessoas que são peças do nosso puzzle. Pessoas com o mesmo sentido de humor que nós: nonsense, acutilante e por vezes cáustico. Pessoas que numa sala, quando em pontas opostas, olhando uma para a outra sabemos exatamente o que estamos a pensar. É por isto e por muito mais que a Joana é das minhas pessoas, do meu círculo.
A Joana tem um percurso muito rico. Um exemplo de que o que escolhes como percurso na Universidade não tem que definir a tua vida mas pode servir de ferramenta para chegares ao teu lugar feliz.
1 – Joana Maria, minha querida capicua, ambas temos um blog, eu sobre Educação e tu sobre Lisboa aliada à fotografia. À partida parece que não existem pontos em comum mas este tema (educação), de tão vasto que é, alberga tantos outros. E as artes, como uma forma de Educação, estão muito presentes no teu dia-a-dia.
Tendo em conta o teu percurso, desde a tua base académica, que acontecimentos na tua vida pessoal e profissional te trouxeram até este projeto (fotografia)?
Desde tenra idade que a sensibilidade para a Cultura e a Educação foram uma constante.
E isso veio de casa, veio dos meus pais, ou seja fui crescendo sempre com a noção que estudar era um privilégio mas que quando chegava à escola muita da minha bagagem vinha de casa.
A educação para mim foi sempre vista desses dois lados Casa Versus Escola e Escola Versus Casa. A assunção que estudar era um privilégio e que deveria estudar e formar-me consolidou-se no secundário quando me percebi que eu era muito mais das palavras do que das componentes técnicas. Formei-me em Direito, e hoje quase 20 anos depois dessa tão tenra decisão, continuo a achar que foi a decisão mais certa da vida, pois o meu curso de Direito é a ferramenta maior que tenho para entender esta Sociedade e tudo o que me rodeia. Mas se o Direito era uma certeza, e como sou humana, muitas mais certezas se instalavam na minha vida, no meu trabalho e na minha formação. Aí entra o meu pai, Produtor na RTP, do início de uma estação pública e de um sonho. A Imagem existiu sempre. Sempre. Não me lembro da vida sem fotografias, sem câmaras à volta e sem a RTP de pano de fundo. O Direito é em certos aspectos um espartilho e é também uma forma de estar (com muitos carreirismos com os quais não concordo), e os últimos 20 anos desta nossa Humanidade já nos mostrou que somos muito mais do que apenas uma coisa. Corri para a Fotografia, lancei um projecto sobre fotografia em Lisboa e estou até hoje, passados 7 anos a trabalhar em imagem. A minha vida é sobre as imagens, sobre a criatividade e sobre o valor da palavra.
2 – A nossa educação é fruto dos exemplos e referências, primeiro com os pais como role model, depois amigos e um conjunto de espaços e vivências que nos vão moldando. Que bagagem (valores) trazes dos teus pais, da tua família, de casa?
Sem me dar conta já fui respondendo a esta segunda questão, na primeira.
Mas de facto todos os meus comportamentos e atitudes a nível escolar eram um espelho que tinha em casa.
Estudei até ao nono ano em colégios privados, era um universo sempre mais protegido, lembro-me que quando fui para o público era tudo muito mais barulhento. Nos colégios era tudo mais controlado e silencioso. Eu era uma menina sossegada, sempre com sagacidade e sem grandes conflitos à minha volta. Os meus pais deram-me educação através de vários prismas. Primeiro a Humana, isso de estar próxima do outro, de ser boa colega, e principalmente não chatear os outros com problemas que pudesse estar a viver. Depois a educação do Bom Dia, do cumprimentar toda a gente. Repito: toda a gente. E depois os valores, o da aceitação sem me resignar, o de não concordar sem fazer um conchavo e principalmente de entender desde criança que a educação traz valores e a Cultura é uma grande base de generosidade para olhar para o mundo à nossa volta.
Nunca fui fã da obra de Salvador Dali, mas sempre o achei genial. Sentava-me sempre na igreja do Colégio ( das Doroteias) em frente da Imagem da Nossa Senhora, não porque a entendia, já que eu era uma menina entre uma infância feliz, mas essa mesma Imagem era lindíssima, e isso de alguma forma moveu-me. Não fossem os meus pais e a sua simplificação da vida em relação a mim e ao meu irmão e a minha vida teria sido claramente muito diferente. Era feliz na minha infância, e sem me questionar, eu era feliz porque sim, porque a base e o colo estavam lá.
3 – De que forma é que a fotografia, que no teu caso são uma forma de relações humanas, te tem feito evoluir enquanto pessoa e profissional? E de que forma se insurge como uma arte educativa?
A fotografia é um belíssimo espelho da matéria humana, não só pela sua questão temporal e pelo que nos faz sentir na memória, mas pelo património que me trouxe.
Já fotografei, tanta, tanta, tanta gente. Já vi tanta coisa através da minha lente que muitas vezes me questiono onde vou guardar tudo isso. Trabalhar em fotografia, e eu essencialmente fotografo mais pessoas do que produto, faz-me antes de mais ter uma capacidade relacional efectiva porque preciso que as inseguranças, as reservas e por vezes desabafos não apareçam nas minhas fotografias. Aí o desafio é gigante, e eu dou por mim a ser um veículo de algo que apesar de ter a minha autoria, não me pertence.
A imagem de cada um de nós é o nosso primeiro cartão de cidadão. E a cidadania e a sua assunção é tão importante. Obviamente que tudo isto me fez evoluir bastante, em parte acalmou-me e fez-me traçar um caminho mais concreto e posicionar-me na fotografia a 100%. Como arte educativa e agora que o spectrum da fotografia está tão alargado sinto-me a viver um grande desafio da fotografia não ser banalizada e a reserva da vida privada não seja um motor veiculado por fotografias (e vídeos). Mas as fotografias são na sua base relações humanas, não me imagino a fotografar sem estabelecer de imediato uma sintonia com a pessoa que estou a fotografar.
4 – Quem te conhece sabe que és uma pessoa informada, consciente dos problemas do nosso pais e com um discurso estruturado e equilibrado acerca dos diversos temas quentes da nossa sociedade. Ambas, como forma de retirar o peso negativo das várias notícias que surgem diariamente, costumamos aligeirar o ambiente com algumas piadas, mas conscientes dos problemas sérios que assolam a nossa atualidade.
Enquanto cidadã e utilizadora diária das redes sociais, o que vês do outro lado da tua lente que te preocupa?
Vivemos uma altura a meu ver mais complicada do que desafiante. As redes sociais, a exposição, a rapidez do “passa a palavra”, os hashtags, os grupos de whatsapp, tudo nos faz estar em contacto e nos faz passar informações. Comunicar passou a ser o lenitivo maior desta Humanidade, mas a pergunta que me coloco todos os dias é justamente essa: será que temos que comunicar tanto? Será que temos que nos expor tanto? Faz sentido fotografar o meu filho no banco da escola e “instagrar” o momento? A minha resposta é não. Uso redes sociais, Facebook e Instagram, sei que há mais, mas não tenho capacidade para mais, na minha conta que é pessoal de Instagram público fotos do meu dia-a-dia, para mim isso é pacífico, mas deixo o alerta: não sei fazer stories, não uso hashtags e tremo quando me dizem “vamos criar um grupo de whatsapp!”. No Facebook onde tenho páginas profissionais comunico o meu trabalho, e faço-o com todo o empenho. O Facebook permite-me ter acesso a muito do que se passa a nível de notícias no mundo, e isso é inspirador até para os posts que vou escrevendo sobre política e que tantas críticas merecem. Agora acho que devemos reavaliar muita coisa.. Se antigamente aparecer na televisão era algo quase impossível hoje no banho fazes um vídeo a dizer que usas um gel de banho fantástico, está demais, está efectivamente de mais. E no que toca à educação, não é isto que quero para os meus filhos. É necessário mais consciência e perceber que as fotos, os vídeos e as palavras que escrevemos nas redes sociais deixam de ser nossas a partir do momento em que são publicadas. E eu questiono: será que queremos entregar ao mundo esse património? Que a reserva das opiniões volte a estar na Moda, seja um statement. Democracia é ter Opinião e fazer uso dela para melhorar o mundo, não para fomentar exposições, juízos e até mesmo violência.
5 – Esta última questão tem sempre a sua tónica mais ligada à Educação na vertente “escola”. Pegando no final da pergunta anterior como encaras o futuro da Educação em Portugal?
O Futuro da Educação em Portugal! Fica o desabafo que é e pergunta mais difícil desta entrevista. Antes de mais há duas coisas que têm que ser transversais numa sociedade. Um Governo quando constrói o seu Orçamento do Estado, e entra na baliza dos cortes tem que perceber que cortar na saúde e na escola pública, é cortar nas duas maiores importâncias da vida de um cidadão. Vivemos nos últimos anos (2011/2015) tempos muito difíceis com a estadia da Troika no nosso país, e sinceramente se as coisas tivessem continuado, a escola pública teria sido extinta, porque dentro deste liberalismos que em parte o mundo ocidental vive há a assunção que mais vale teres dinheiro para pagar um colégio, do que ter um ensino gratuito.
O futuro da Educação passa pela requalificação do papel da Escola na sociedade, passa pelos pais perceberem que o trabalho escolar começa aos 3 anos quando vamos por os nossos filhos na pré-primária. Passa pela assunção que um Professor não é “pau para toda a obra” e que o respeito começa na hora em que em concurso público, estes são colocados. Passa por entender que um professor ensina, não está ali a educar. Mas passa principalmente pelo poder Legislativo: de entender que acesso a uma escola seja ela pública ou privada deve ser um direito inabalável, e que estudar deve ser efectivamente a fase mais tranquila da vida de um cidadão. E fica a sugestão: preparem os nossos estudantes para o mercado de trabalho de forma consciente. A longo prazo esta ideia fará de nós, um país mais desenvolvido em todas as frentes de uma sociedade.
Foi uma surpresa muito agradável abrir o blog e este ser um dos nomeados para o blog do ano, na plataforma blogs.sapo, na área da Educação.
Como ja tive oportunidade de dizer eu não lia blogs, nem nunca me tinha ocorrido fazer um blog. Mas gosto muito da minha profissão e gosto acima de tudo de pensar e refletir sobre Educação. Nunca numa perspetiva de saberes consolidados e dados adquiridos, mas sempre numa lógica construtivista. E só assim faz sentido.
Este é tambem um blog de partilha. Da partilha de práticas e saberes de várias personalidades ligadas, de uma forma direta ou indireta, à Educação e com os quais muito tenho aprendido.
Obrigada pela nomeação. É uma valorização muito importante.
SIte de votação:
Da minha rubrica no blog ComRegras: http://www.comregras.com/ainda-precisamos-de-um-manual-para-a-inclusao/
"Estamos em pleno século XXI. Passámos paulatinamente de esconder e não olhar como parte integrante da nossa sociedade pessoas com deficiência, para perceber os seus direitos e deveres enquanto cidadãos. Mas à revelia do que a evolução nos poderia dar, ainda precisamos de um Manual para a Inclusão.
Trabalhei ainda com o Dec.Lei 319/91, com o Dec.Lei 3/2008 e com o agora Dec.Lei 54/2018. Participei na discussão das fragilidades do anterior decreto (Dec.Lei 3/2008) e, dez anos depois, olho com esperança para a mudança que esta nova legislação quer trazer. Um paradigma (retirem aspetos económicos, rótulos, teorias economicistas) e filosofia de base que é, no meu entender, intocável. Pelos menos em pleno séc. XXI é. Se é absolutamente exequível na realidade atual? Isso já é outra história..
Têm sido apontados muitos motivos para (e já tive a oportunidade de ler e ouvir várias críticas a este novo documento) boicotar, por princípio, esta nova forma de encarar a Educação e as “Necessidades Educativas Especiais”. “Porque os alunos deixam de ter necessidades educativas especiais”. “Porque o que é pedido não é exequível”. “Porque vêm os exames”. “Porque em termos de estrutura da escola não é possível aplicar as medidas universais que vêm no manual.” É do senso comum que qualquer nova mudança traz otimistas e arautos da desgraça. No nosso tempo, mais arautos da desgraça.
Sou favorável a esta nova legislação, com a salvaguarda de que devem continuar a existir, como solução possível e não descentralizadora, outras estruturas e instituições que possam continuar a responder a casos de fim de linha. Encará-los como desnecessários não é fechar os olhos à Inclusão mas sim fechar os olhos à realidade.
Sou favorável a um novo paradigma que responsabiliza toda a comunidade escolar por todos os alunos não se fechando em gabinetes, em salas e em departamentos. Favorável a que não seja necessário alguém ou um papel que indique o que deve um professor, que lida diariamente com um aluno na sua sala de aula e o conhece melhor do que ninguém (muitas vezes melhor do que os próprios encarregados de educação) fazer, como e quando avaliar. Que fique à espera de medidas seletivas ou adicionais sem antes ser professor.
Esta legislação vai resultar? Não sei. Tem erros? Muito provavelmente. É economicista? Não quero saber. É uma mudança extremamente significativa na forma como encaramos a Escola e a Educação? É. E é isso que me interessa.
Esta legislação tem um Manual…(no meu entender bem feito). Mas tem um Manual.. O que não deixa de ser uma metáfora muito interessante para a atualidade do conceito Inclusão.
Ainda estamos no século onde a Inclusão tem de ser decretada e ensinada. Mas esperemos que, à semelhança de tantas evoluções, paulatinamente venha a ser cada vez mais sentida e menos decretada."
A Inês Afonso Marques foi a primeira pessoa que entrevistei no meu blog há três anos. É uma amiga e uma referência na área de paretalidade e dos seus desafios.
A Inês lançou o seu primeiro livro a título individual "Crescemos Juntos 365+1 Inspirações Para Uma Parentalidade Feliz." e não podia estar mais orgulhosa do seu trabalho. Um trabalho que assenta na observação e interação diária com pais, crianças e escola. Um trabalho consciente dos reais problemas e desafios nesta tríade nem sempre fácil e clara: escola - alunos - pais.
A entrevista fala por si.
Obrigada Inês:)
1 – Inês, foste a primeira pessoa que entrevistei no meu blog. Digamos que iniciaste esta rubrica. Três anos depois lanças o teu primeiro livro a solo. Como nasceu este projeto?
Escrever o Crescemos Juntos surge da vontade de “tocar” mais pessoas, além das que me procuram diariamente no consultório. Há temas transversais à maioria dos pais: dúvidas, medos, angústias que não os levam necessariamente a agendar uma consulta e que não faria grande nexo ficarem “só comigo”. Fui sentindo que algumas das reflexões feitas no contexto do consultório poderiam fazer sentido noutros formatos. Quis partilhá-los. Escrever este livro constitui uma forma de comunicar sobre temas da parentalidade com mais pais, mais famílias, mais educadores. É uma espécie de abraço contentor e uma enorme homenagem a todos pais que procuram dar o melhor de si todos os dias.
2 – Sou uma mãe recente e portanto, naturalmente mais desperta para esta viagem da parentalidade. Há dúvidas constantes que vão sendo ultrapassadas no momento pelo improviso, pelas nossas referências, pelo nosso “mapa emocional” (uma imagem muito ilustrativa mencionada por Catarina Beato). Quais são os maiores desafios da parentalidade?
Creio que o tema da “perfeição” é um desafio. Pais que procuram ser os melhores e que incitam os filhos a ser os melhores, por oposição a dar o melhor. Há uma espécie de competitividade latente, muitas vezes induzida pela própria sociedade, que gera imensa pressão sobre as famílias… Roubando-lhes espaço, tempo e genuinidade. Espaço para se relacionarem, sintonizarem e conhecerem verdadeiramente. Tempo de qualidade. Genuinidade para seguirem os seus corações, sem ceder a pressões exteriores.
Portanto, há muitas vezes a questão das pressões externas, fazendo as famílias andarem um pouco à deriva sem estarem conectadas com aquilo que valorizam e desejam verdadeiramente para elas. Há também a questão do tempo, dos horários e das rotinas. Mas eu coloco a tónica na qualidade do tempo. Ele pode muitas vezes não ser todo aquele que seria desejável. Mas o que existe é vivido em qualidade? Pais e filhos passam tempo conectados, em relação, em sintonia? Verdadeiramente, a qualidade do tempo que pais e filhos passam juntos é prioritária.
3 – Da tua experiência como têm andando os “nossos pais”, os pais desta atual sociedade? Há valores, inspirações que são transversais ou algumas muito específicas da realidade que habitamos?
Não quero, nem posso generalizar. Falo apenas daquilo que vou observando e refletindo com colegas, amigos e algumas famílias com quem trabalho. Acho que “os nossos pais” se sentem muitas vezes desorientados, sem forças, a precisar de “colo”, de encorajamento… Como tenho dito, de recalibrar as suas bussolas da parentalidade, de redescobrirem os seus valores enquanto pais, de voltarem a sintonizar com eles e de redescobrir as suas forças e qualidades.
Das 365+1 inspirações do “Crescemos Juntos” muito poucas serão específicas a algumas realidades. Elas são transversais à missão que é acompanhar o crescimento de um filho. Baseiam-se em partilhas que foram sendo feitas comigo, em reflexões pessoais e, obviamente, naquilo que a investigação na área da Psicologia e do Desenvolvimento Infantil no diz. Todas as inspirações estão formuladas numa linguagem simples, que convida à reflexão e à ação.
4 – E como andam os “nossos filhos” que inspirações necessitam? Por quê e por quem “gritam” eles?
Esta é mais fácil. J Os “nossos filhos” gritam por atenção, nas mais variadas formas. As crianças querem sentir-se especiais na relação que têm com os seus pais, querem brincar com eles, falar dos seus temas (que vão muito além do estudo), conhecer o mundo dos pais, passar tempo de qualidade com eles. Tantas e tantas crianças e adolescentes no consultório deixam cair frases como… “Os meus pais não sabem o que faço nos intervalos. Só querem saber o que almocei e quando é o próximo teste.” “De certeza que queres ouvir a minha música preferida? Os meus pais nunca a ouviram.” “Quem me dera que os meus pais se sentassem assim no chão comigo a fazer um jogo.” “Que bom sentir que me queres conhecer e que tens em consideração as minhas opiniões.” “Acho que os meus pais nunca foram falar com a minha Diretora de Turma.”
5 – Esta última pergunta tem sempre uma ligação mais estreita e direta com a Educação e Escola e sendo tu muito consciente das nossas escolas, de que inspirações precisa o nosso sistema educativo? E enquanto pais como podemos ajudar nesta construção?
Pegando na última frase, da resposta à pergunta anterior, pais e escola precisam de se inspirar mutuamente, de se valorizarem mutuamente, de comunicar mais. Havendo maior interligação entre escola e família, todos “crescem”. Todos poderão sentir-se mais confiantes, mais seguros, mais motivados nos seus múltiplos papéis. Infelizmente a escola é muitas vezes tema de conflito em casa e não faz sentido que assim seja. De parte a parte, famílias e escolas, respeitando os papéis únicos e especiais de cada sistema, devem procurar comunicar mais em prol dos mais novos.
Não sei se será uma visão demasiado utópica mas brincando um pouco e pegando nalgumas inspirações do “Crescemos Juntos” o sistema educativo…
“Poderia” valorizar mais os processos e menos os resultados.
“Poderia” abraçar mais os interesses das crianças.
“Poderia” respeitar mais os ritmos diferenciadores das crianças.
“Poderia” valorizar mais o ser, em vez do ter.
“Poderia” apostar mais no elogio e menos nos “resmungos”.
Tinha de mudar a minha morada no cartão de cidadão o que implicava levantar-me cedo para tentar não apanhar uma fila considerável. Acordei cedo e pus-me a caminho sabendo que muito provavelmente, como tinha apanhado trânsito, teria de esperar bastante. Quase a chegar o meu pai envia-me uma mensagem a dizer: “Ainda demoras? Já cá estou e tenho uma senha para ti e está quase a chegar a tua vez”
Este é o meu pai.
O meu pai é a rede constante que tenho a amparar-me sempre. Não me deixa cair, não me deixa esquecer, se puder, não me deixa errar ou magoar nunca. Sem exigir, sem impor, sem cobrar. É amor incondicional.
O meu pai é de poucas palavras mas de sentimentos grandes e genuínos.
O meu pai é de família, é agregador. Gosta de pessoas, gosta de conviver, gosta de todos a rir e sorrir ao seu lado.
O meu pai não é de se zangar, nem de desavenças. É um homem sério, correto e justo e por isso muito sensível a injustiças, única altura em que se desilude e se zanga.
O meu pai é das melhores pessoas que conheço. Bondade é a melhor palavra que o define. À semelhança da minha mãe, onde ele estiver a ninguém nada faltará.
O meu pai gosta de casa, do sossego, de jantares de família, da filha a rir e da sua neta que já o conhece tão bem e sorri sempre que o vê.
Acho que nunca me zanguei com o meu pai. Não me lembro também do meu pai se zangar comigo, apenas nos disparates que fazia em pequenina.
O meu pai pode não concordar muitas vezes comigo, ter muitas vezes medo, mas guarda para si. Expõe, de forma a que eu não me melindre, nem me magoe o que acha, na esperança que eu o oiça. E eu oiço. Oiço sempre e explico-lhe as minhas razões. As razões que a cabeça entende, mas que o coração (o coração de pai) não consegue deixar de se afligir.
O meu pai é amado por todos. É impossível não gostar dele. Há poucos como ele.
O meu pai ainda hoje me manda mensagens todos os dias para saber se cheguei bem. Ele sabe que eu às vezes não tenho paciência para responder. O meu pai secretamente sabe e diz-me “Desculpa estar sempre a perguntar mas como vais de carro fico sempre um pouco aflito”. O meu pai não precisa de me pedir desculpa por nada. Eu talvez sim. Por às vezes não conseguir dar toda a atenção que merece.
Não querendo usar lugares comuns, mas porque me comovo sempre quando falo do meu pai, sei que não poderia ter pai mais dedicado que à sua maneira, tão maravilhosa, faz-me sentir todos os dias o quanto sou importante para ele. E sim, sou um pouco (talvez muito) menina do papá. Com muito orgulho.
Parabéns meu pai.