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A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
Há um crescente movimento perigoso a ascender em vários países. Basta olhar para o Brasil, para os E.U.A onde Bolsonaro e Trump conseguem dar vida a sketchs de humor negro que só achava possível em ficção. Como escrevi há pouco tempo: “Ou percebemos e resolvemos rapidamente onde é que a democracia tem falhado e onde deveria ter, inevitavelmente, mão forte ou, à semelhança da célebre frase de Manuela Ferreira Leite "Mais vale suspender por uns meses a democracia para se poder fazer todas as reformas necessárias". Poderá não ser só uns meses..”
É verdade que por vários momentos não quis acreditar que um candidato a presidente de um país e em pleno século XXI se insurgisse com um discurso de ódio direto e especificado. Achava que só podiam ser fake news, montagens. Mas não. Em democracia isto é possível e é a distância de um voto que permite a sua continuidade. Pior. Num país com o um passado ainda recente de ditadura militar a maior parte dos seus cidadãos foram complacentes e legitimaram um discurso que põe em causa a sua própria liberdade.
No dia seguinte acordei com a imagem de uma informação que supostamente incentiva à denúncia, por parte dos alunos de uma escola, de professores que se insurjam com comentários e ideias contrárias ao recente presidente eleito. (Encontram em algum momento da história semelhanças?)
Esperei, mais uma vez, que esta notícia fosse falsa. Nada indicou que fosse.
Sou, por natureza, muito pouco alarmista no geral. Recordo uma conversa com um amigo, há sensivelmente 5 anos, onde ele, algo alarmado, falava das grandes possibilidades de regimes de extrema-direita poderem chegar de novo ao poder. Disse-lhe para acabar o gin e não dizer disparates, qual arauto da desgraça. Cinco anos depois movimentos que foram primeiro subtis, depois declaradamente inquisitórios, discursos de “tótos” fundamentalistas, mas inofensivos, ganharam terreno. Muito terreno.
Como professora espero nunca chegar a um tempo onde tenha medo de partilhar as minhas ideias, onde tenha de me calar com medo de represálias, onde a tolerância e o equilíbrio deixe de ser o que nivela a nossa existência.
A democracia pode ser por vezes muito assustadora, mas isto..isto é muito mais..
Sigo o blogue da Catarina Beato desde 2014. Sempre admirei a sua força de vontade, determinação e organização. Comecei a ler por curiosidade, na altura andava de dieta e uma amiga minha tinha-me falado do blogue “dias de uma princesa". Fui ler e rapidamente criei uma empatia com a sua escrita. É muito bem escrito. Não era floreada, não era “perfeita”, era real . E é isso que me interessa.
Há uma expressão muito boa de Winnicott, “uma mãe suficientemente boa”. Como recente mãe, nunca uma expressão me fez tanto sentido. A Catarina Beato tem, diretamente ou subtilmente, ajudado a desmistificar um ainda presente e pesado preconceito de que uma mãe pode ou não pode algo e que deve ser perfeita. Ser mãe não é a única coisa que nos define, embora seja a melhor viagem de sempre. E são nas várias coisas que nos definem que reside o melhor que podemos dar aos nossos filhos.
Obrigada Catarina.
1 - Assim como a Catarina, também tenho uma filha Maria Luísa e também tinha uma particular preferência por um rapaz. A Catarina chega a verbalizar várias vezes que tinha muito medo de ter uma menina. Este medo vem de algo mais pessoal, particular do seu espaço familiar, ou da sociedade atual?
Como escrevi no meu blog e é exactamente a resposta a esta questão:
“Durante a gravidez afirmei muitas vezes: “é-me indiferente desde que tenha saúde”. E sentia exactamente isso mas esperava que – como das outras vezes – encontrassem um pilinha na ecografia. “Sou mãe de rapazes.” Essa era a minha certeza.
Eu não queria ser mãe de uma menina. E eu explico-te porquê. Porque tinha medo de não ser menina suficiente para ser a tua referência. Não sei maquilhar-me, não pinto as unhas, sou demasiado despreocupada com aquilo que visto. Não fui a menina que recebia elogios, era demasiado “rapaz” para isso. Era maior do que as minhas amigas, mais bruta que as minhas amigas, menos “menina”. Cresci com a amizade dos rapazes, com o “és cá dos nossos”, “és mesmo fixe”. “Sou mãe de rapazes”, pensei sempre, como se isso me protegesse de todas as questões que ficaram por resolver na minha adolescência.
Duas ecografias e nada de pilinha, “quase de certeza que é uma menina”, garantiu a médica. O meu marido e o meu filho adolescente comoveram-se. E eu fiquei muito quieta, em pânico. “Uma menina.” “E agora? Uma menina? Mas eu sou mãe de rapazes!”
O Afonso, o meu rapaz de cinco anos, teve um período de negação. Ajudou a esconder a minha. Depois aceitou: “eu afinal gosto de meninas e quero a mana”. Eu ainda demorei.
Tenho medo de ser mãe de uma menina apenas porque sou mulher e sei que isto do género ainda significa que muitas coisas são diferentes. Porque este mundo ainda assiste a situações gravíssimas em que as mulheres são maltratadas apenas porque são mulheres, porque ainda confundimos defender os diretos das mulheres com não poderem ser vaidosas ou mostrar o corpo. As mulheres não querem ser iguais aos homens, somos fisicamente diferentes, mas querem poder ser mulheres, da forma livre que o decidirem ser – suaves ou brutas, mães ou não, trabalhadoras em casa ou sem conseguirem ir a casa pelo cargo importante que têm, discretas ou despidas, cheias de pudor ou vergonha nenhuma, princesas ou camionistas.
Não queria ser mãe de uma menina. Agora sou mãe de uma menina. E espero conseguir que sintas essa liberdade e esse mundo de possibilidades.”
2 – Sente que, como mãe e na sua educação, há diferenças na forma como lida com a Maria Luíza por ser rapariga em relação aos seus filhos rapazes?
Não, não há qualquer diferença. Quase nem na forma de vestir porque a Maria Luiza herdou muitas coisas dos irmãos. Tal como nos brinquedos. Sou exactamente a mesma mãe.
3 – A Catarina tem um percurso muito interessante e é sem dúvida a referência de uma mulher forte, resiliente, corajosa e muito estruturada no sentido em que está ciente das suas potencialidades e fragilidades. Como mãe, qual a mensagem mais importante que quer passar aos seus filhos?
Quero apenas que sejam felizes como a noção de liberdade e responsabilidade. Acho que a maioria das coisas que tomamos como certas a vida encarrega-se de nos trocar as voltas por isso o melhor é ir deixando acontecer e reagir de acordo com as necessidades de cada momento (também nas mensagens que queremos passar). Acredito que somos um exemplo na vida dos nossos filhos. Não pela imitação mas pelo valores que transmitimos.
4 – A mãe da Catarina é professora e vivemos hoje, fruto de muitas guerras, alguma certas outras menos, um escrutínio público das várias dimensões do professor passando uma imagem maioritariamente negativa. Como encara estas notícias?
Naturalmente encaro de forma negativa porque acredito que os professores são uma parte fundamental da formação de um povo e de um país. Remetemos um professores para um lugar menor o que trás consequências a médio e longo prazo.
“Arrisco dizer que me lembro de todos os meus professores: os chatos, os fixes, os intelectuais, os divertidos, os que nunca se enganavam e os distraídos, os que faziam parte da mobília e os estagiários. Foram, todos eles, uns mais que outros, fundamentais na minha vida.”
5 – Este é um blog sobre Educação e as suas várias dimensões e por isso finalizo esta entrevista com a seguinte pergunta: Qual a sua visão sobre o mundo da Educação em Portugal? Quais os nossos pontos fortes e o caminho que ainda temos de percorrer?
Os pontos fortes são as pessoas as também um sistema exigente e com excelentes bases. Os pontos fracos, para além de alguma falta de actualização é o constante desinvestimento do Estado que se traduz numa falta de prestigio para a classe profissional. A Educação é o pilar de um país. E quando construímos uma casa com pilares fracos, a casa cai.