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A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
“Um projecto internacional procura criar uma rede de hotéis e restaurantes que recebam estágios de pessoas com Trissomia 21 e dificuldades intelectuais. Em Portugal ainda são poucos os que participam, mas os responsáveis não desistem de querer fazer este projecto crescer.”(https://www.publico.pt/2018/03/21/sociedade/noticia/trissomia-21-nao-e-so-querido-e-fofinho-e-um-trabalhador-1807360/amp)”
Deparei-me com o título desta notícia no jornal Público e automaticamente pensei: Finalmente um título, uma frase que faz jus ao que é esperado quer de quem usufrua de todas as suas capacidades em pleno, quer de quem tenha comprometimentos físicos e ou intelectuais. Em ambos os casos não interessa se é fofinho, não interessa se é querido, interessa que desempenhe a sua função e que sejamos assertivos e exigentes com o que é esperado.
Assumo-me como muito impaciente a títulos e mensagens condescendentes no que toca a deficiência. O palavreado por vezes rebuscado que arranjamos para denominar qualquer aspeto quer físico ou intelectual com receio de ferir susceptibilidades por parecer menos socialmente aceite, ou quando suavizamos a postura e palavras para tornar o nosso discurso “mais fácil” de ser compreendido pelo “coitadinho” é no meu entender uma enorme falta de respeito. É o mesmo sentimento quando oiço, em reuniões de conselhos de turma, “Como ele faz parte do D.L. 3/2008 e tem um PEI (Programa Educativo Individual, em dei-lhe um 3”. Como se existisse um documento que serve de um passe livre para “ir andando” pela escola sem definir objetivos que devem ser, igualmente, exigentes e rigorosos, dentro do perfil de funcionalidade de cada aluno.
Sem qualquer floreado, a Trissomia 21, ou qualquer outro comprometimento intelectual reflete-se, naturalmente, em maiores dificuldades de acesso à vida laboral. A existência de instituições ou empresas disponíveis para tomar esta iniciativa demonstra o pensamento e atitude esperado de uma sociedade evoluída, onde o foco não deverá ser apenas os comprometimentos existentes dos empregados, mas sim dar a oportunidade, merecida, a que estes profissionais demonstrem as suas competências dentro do que é esperado no local de trabalho. Principalmente que encontrem um espaço que lhes permita continuar a sua formação pessoal e social que ficou suspensa no final da sua escolaridade e que tranquilize famílias que ficam órfãs de um espaço de formação após a conclusão da escola.
Há tempos li um post da autora do blog “Dias de uma Princesa” Catarina Beato, sobre a sua experiência na Maternidade Alfredo da Costa no nascimento da sua filha. Recordo-me de o ter guardado por sentir o quão importante é enaltecer a qualidade de um serviço público tão importante como este.
Passado quase um mês da minha ainda breve experiência como mãe, quero também deixar um breve texto sobre este momento e o profissionalismo que senti.
Recordo-me de uma amiga que me dizia que o que mais lhe interessava num serviço era a competência e não que fossem simpáticos, especialmente nesta área. Compreendo e concordo maioritariamente com esta afirmação. No entanto e tirando a questão da competência que naturalmente é o foco, a capacidade empática e os afetos são, no meu entender, parte integrante da competência, particularmente nesta área. A exposição do corpo, as hormonas, a responsabilidade e força da natureza de um corpo que gera vida, não é um simples procedimento médico.
Por todas as emoções que fluem durante 9 meses e especialmente durante o momento do trabalho de parto, a capacidade para saber o que dizer, como dizer e criar o melhor ambiente para receber uma vida não é pura simpatia, é competência e profissionalismo e por isso quero deixar estes breves agradecimentos:
Um obrigada à enfermeira Joana que me acompanhou no final do seu turno e que me abraçou e me deu a mão para não me mexer enquanto levava epidural. À outra enfermeira Joana que me fez o parto enquanto conversava serena e tranquila sobre vários assuntos e que no final me veio dar um beijo e felicitar pela linda Maria Luísa expressando genuína felicidade e preocupação. À doutora Graça que veio terminar o parto e que entrou na sala com umas antenas de joaninha pois era Carnaval e ajudou a amenizar e suavizar o incómodo das dores das contracções. A todos os enfermeiros sempre disponíveis para me ouvir e tirar dúvidas e todas as auxiliares pela paciência de levantar e baixar a cama várias vezes ao dia. Às minhas companheiras de quarto que durante dois dias se tornaram no primeiro grupo de apoio, no pós parto, para a coisas tão simples como poder comer, ou tomar banho ou tão só partilhar piadas e preocupações.
E um especial obrigada ao pai que esteve sempre presente, em equipa e com uma força excecional que ultrapassou o seu receio de assistir ao parto e de todas as emoções durante esse período.
E é isto. Toda uma nova definição de olheiras, toda uma nova definição de prioridades e toda uma nova dimensão de amor. Todo um novo samba mas do mais antigo que há.. E é isto. Estou feita uma lamechas pirosa que até já veste de cor de rosa, já dizia a Capicua.