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A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
“Tempo perdido para casa”, a frase com a qual apelidávamos, carinhosamente, a sigla T.P.C no Secundário, já lá vão uns anos.
Uma recente discussão, numa formação que frequento atualmente sobre tutorias, veio relembrar-me este tema que reúne poucos e diferentes consensos.
Há quem, convictamente, coloque os trabalhos de casa na prateleira da aberração pela “violência para as crianças” que deixam de ter tempo em casa e obrigam os pais a delegar tempo para ajudar os filhos, ou a realizá-los em modo automático, sem reflexão em Centros de Estudo. Ouvi, inclusivamente, frases como; “Deve ser o Ministério da Educação a terminar com os trabalhos de casa”. Existe, por outro lado, outra perspetiva que defende a utilização dos T.P.C como uma absoluta necessidade de “reforçar os conteúdos dados em sala de aula”
Vejamos: Apelando à minha atitude, sempre muito pouco fundamentalista, não consigo, em primeiro lugar, entender esta perspetiva dos TPC como se de um saco se tratasse em que implica, sempre, exercícios já feitos na aula, leituras, e afins.
Não tenho absolutamente nada contra os TPC precisamente porque não os consigo conceber apenas num único estilo, formato e propósito.
Os TPC podem e devem ser variados num momento, ou em momentos específicos da semana. Podem sim, em muitos casos, servir como uma complemento de reforço e também como um momento de partilha de uma atividade a dois entre pares ou entre pais e filhos porque, na perspetiva que considero a mais correta, o trabalho de casa pode consistir em ver um filme; trazer algum objeto de casa, ler um pedaço de um livro. Não tem de ser apenas e sempre uma página, ou vários de exercícios formatados, todos os dias da semana. Nem muito menos tem de se tornar um bicho papão e fonte de stress para crianças e pais.
Encaro os TPC como uma atividade que pode, quando adequados, trazer benefícios a vários níveis que não se prendem apenas com o clássico “mais do mesmo”. A verdade é que a sigla TPC ganhou, ao longo dos anos um rótulo pesado, desmotivante, um pouco perpetuado por alguns professores ou escolas que, de antemão, colocavam (colocam) um peso muito formal e com uma componente “castigo” ainda que inconscientemente.
Uma das questões mais importantes a ter em consideração é perceber as possibilidades de tempo, disponibilidade dos alunos e respectivas famílias para assim conseguir adaptar o trabalho. Esta necessidade não se prende apenas com os trabalhos de casa mas com todo o trabalho desenvolvido. E é por esta razão, para mim das mais importantes, que a realização de TPC não se prende, nem se deve prender com diretrizes do Ministério da Educação. A escola tem de ter (é esse o objetivo futuro) flexibilidade curricular e mais autonomia que lhe permita uma organização mais individual e coerente com o meio onde está inserido podendo assim, cada professor, decidir o seu modus operandi, focado no aluno.
O Ministério da Educação tem outras responsabilidades que em nenhum momento deve passar, naturalmente, por este tipo de restrições.
Não gosto do politicamente correto. As expressões desta “política correta” são provavelmente das poucas expressões que mais me incomodam e com as quais tenho extrema dificuldade em assimilar e acomodar, precisamente porque considero ser um desequilíbrio. Um desequilíbrio entre ação e pensamento. Somos politicamente corretos porque queremos pertencer a um determinado espaço dentro da sociedade, ou porque queremos assumir uma posição que pareça bem mesmo que não genuína, mesmo que não fazendo parte de nós. Ou porque simplesmente temos medo de represálias.
Existem atualmente e sempre existirão ações que pretendem não melindrar e entrar num círculo cómodo, diria, esterilizado. Comportar e guardar tudo em caixinhas que nos permitam viver e convencermo-nos de que é assim que deve ser. Porque de alguma forma esta forma de funcionar traz-nos uma capa protetora e passível de poder criticar os outros no alto dos nossos pensamentos “irrefutáveis” e ações “trabalhadas” e não sentidas.
O mundo da Educação também não escapa. Está igualmente inundado pelo politicamente correcto. Sindicatos que dizem o que os professores querem ouvir; professores que transitem uma mensagem que os pais anseiam escutar, mesmo que falsa, escolhendo todas as palavras e acabando por não transmitir a realidade; pais que se agarram a teorias de internet e repreendem tudo o que não compreendem ou não encaixe na poção mágica lida. O politicamente correto vagueia e inunda os discursos quer na educação, quer no mundo político, quer nas pequenas e grandes empresas. Aparece como uma tirania educada. É a ditadura dos ofendidos.
Um dos expoentes máximos desta “política” revela-se na forma como tratamos os deficientes físicos nas diversas dimensões da sua vida. Na escola escolhemos as palavras para não melindrar; munimo-nos de toda a condescendência para agir de uma forma que soa tanto a artificial quanto as nossas ações, lembrando-lhes sempre, desta maneira, das suas limitações.
No fundo não há nada mais constrangedor do que não ser genuíno e criar uma personagem. A Educação, especialmente no mundo da Educação Especial, precisa de humor, precisa de tratar as coisas pelos nomes, precisa de murros na mesa mesmo que o menino esteja numa cadeira de rodas, precisa de respeito e tratar o outro como capaz.
Venha o politicamente incorreto para que possamos evoluir.