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A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
Todas as turmas têm, naturalmente, alunos em diferentes níveis de aprendizagem e sendo esta uma realidade o professor tem um enorme desafio pela frente. Um duplo desafio que se traduz em: cumprir o currículo e corresponder às necessidades de cada um. É, certamente, compreensível de que é um papel difícil para um professor sozinho em sala de aula porque embora considere que não podemos ser escravos do currículo, a verdade é que ainda é difícil retirar todo o seu peso.
A existência de alunos a “cumprir um programa” de 2ºano em turmas de 3ºano ou de 3ºano, em turmas de 4ºano e outras realidades são comuns em várias escolas. De forma a ser possível conseguir um trabalho com sucesso deixo algumas sugestões e estratégias que podem facilitar este processo:
- Realizar, juntamente com o aluno, um horário tendo em conta das dinâmicas da sala e que seja colocado num lugar sempre visível e de fácil acesso (dentro do dossier, colado na mesa). Esta estratégia permite ao aluno organizar mentalmente o seu dia e perceber cada “etapa”.
- Criar um caderno/dossier com trabalho individual, mais adpatado ao perfil de funcionalidade do aluno e que contenha todas as áreas trabalhadas na aula. O aluno deve poder escolher autonomamente a atividade que quer realizar das que estão contempladas no caderno/dossier e consoante o horário estipulado na sala de aula.
- Reforçar a necessidade do aluno terminar a atividade num determinado período de tempo para que não se prolongue para o dia seguinte e possa ser corrigida no momento da conclusão. O feedback rápido é importante para organizar tanto o aluno como o professor.
- Para alunos com maior dificuldade de concentração e organização temporal, recortar as atividades e apresentar os exercícios um por um permite estruturar o foco e um melhor desempenho.
- Existir o apoio de um professor sócio educativo ou professor de apoio que permita auxiliar o professor titular de turma em ajudar o aluno a consolidar conhecimentos.
- A utilização do trabalho autónomo não substitui ou elimina (bem pelo contrário) o trabalho que é realizado em conjunto com os outros colegas em sala de aula. O trabalho individual deverá ser utilizado como forma de adaptar os conteúdos ao perfil de funcionalidade do aluno.
- Colocar o aluno (ou alunos) no local de mais fácil acesso ao professor para ir monitorizando o trabalho e motivando o aluno.
-Valorizar sempre com palavras e atutudes positivas os sucessos do aluno porque como já tive oportunidade de escrever neste espaço: “A verdade é que ganhamos muito mais do que podemos imaginar quando “perdemos” 10 minutos do nosso tempo à procurar do talento em vez das dificuldades, ao elogiar (com o equilíbrio necessário) em vez de criticar e ao fazer sentir que aquela pessoa é importante em vez de desistir.”
É também o nome da minha mãe, mas hoje o texto é sobre outra Fátima. A que conheci em 2014.
A Fátima foi (é) a auxiliar de ação educativa numa sala de ensino estruturado para autismo onde trabalhei. Foi a minha primeira experiência como professora de educação especial neste contexto. Embora segura da minha capacidade adaptativa, as dúvidas e inseguranças eram, naturalmente, bastantes no início.
O apoio e a rede de segurança numa escola é fundamental para quem chega de novo e dá os primeiros passos numa nova realidade. Os anos vão trazendo conhecimento, resiliência e mais estabilidade, aquela que nos permite olhar para os novos desafios com mais certezas e menos inseguranças.
Os auxiliares de ação educativa, também conhecidos por assistentes operacionais (termo que não gosto) são pessoas fundamentais numa escola. A sua função pode ser a que permite, em muitos casos, estabelecer uma relação de maior proximidade entre escola, pais e alunos. São um elo de ligação e um braço direito incontornáveis e absolutamente indispensáveis. A prova disto é a instabilidade criada em muitas escolas quando há falta de auxiliares de ação educativa.
A Fátima é, de longe, a melhor auxiliar de ação educativa que conheci. Desempenha um papel que vai para além das suas funções porque a Fátima é mesmo assim: extremamente profissional, extremamente dedicada. A Fátima já conhecia estes adolescentes desde que frequentaram o 1ºciclo. Já havia iniciado o trabalho com eles. Sabia o que tinha de ser feito e não cruzava braços em momento algum. O respeito e admiração destes jovens pela Fátima era inabalável. Uma relação de confiança há muito tempo criada, principalmente porque eles sabiam o quanto a Fátima gostava deles e o quanto se preocupava com eles. Os encarregados de educação confiavam plenamente na Fátima. Professores iam e vinham, mas a Fátima ficava. Fica. E esta é uma segurança impagável para pais e familiares que inúmeras vezes têm de se deparar com dificuldades, inseguranças e decisões constantes.
Repito, a Fátima é (foi) muito mais do que se pode pedir de uma auxiliar de educação. É um ser humano extraordinário, dotada de grande sensibilidade, caráter e uma força da natureza. Correta, atenta, pronta para ouvir e aprender. Aquele braço direito que antes de falarmos ou pedirmos algo já tudo está a acontecer.
Foi, sem dúvida, pelas mãos da Fátima que também muito aprendi sobre a relação e onde construi seguranças.
Obrigada