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A minha visão sobre Educação. As várias visões sobre Educação e todas as suas (e nossas) variáveis.
Em tempo de Natal os filmes de animação inundam as salas de cinema e televisões. Assistimos a filmes antigos e filmes recentes. E de entre estes filmes, um breve artigo que li esta semana, fez-me recordar o melhor filme de animação que assisti nos últimos tempos e talvez o melhor de sempre. Inside out (Divertidamente).
Inside out conta a história de uma jovem, Riley, e do seu processo de crescimento através daquilo que se passa na sua mente. Os diferentes sentimentos têm vida e consoante as experiências que Riley vai tendo e vivendo vão formando a sua personalidade através das memórias mais marcantes que são guardadas numa espécie de sistema central. Ao longo do processo, “Joy” - a alegria está convencida que Riley precisa somente de felicidade na sua vida para crescer sempre bem e feliz, mas ao longo das experiências que Riley vai vivendo, todos se vão apercebendo da importância da tristeza (Sadness).
O trabalho desenvolvido juntamente com médicos e psicólogos ajudou a desenvolver uma realidade transparente de um tema tão complexo como as emoções e a forma como as nossas memórias e o nosso percurso de vida molda quem somos. Num volte-face final (brilhante) apercebemo-nos (como somos adultos já sabemos, mas não deixa de ser doloroso) de como a tristeza é uma chave essencial para desbloquear muitas situações, para crescer e melhor poder discernir sobre o caminho a seguir. É também na tristeza que criamos e que damos o passo atrás para poder continuar em frente.
É um filme obrigatório dos 8 aos 80 anos, para os mais racionais e para os mais emocionais. Ninguém fica indiferente. É um retrato terno de nós que nos deixa de coração cheio e mais conscientes da nossa mente. De repente, aproximadamente durante duas horas, conseguimos quase “tocar” nas nossas emoções e conceptualizá-las. Conseguimos imaginá-las e quase antecipá-las de uma maneira mais "palpável" e menos complexa.
E ainda hoje, no rescaldo de seis meses do filme, é recorrente imaginar cinco personificações de sentimentos a comandar o meu “humor”. O que torna tudo, não mais simples, mas mais consciente. E essa é a grande vitória deste filme.
Conheci a Inês há 6 anos quando trabalhámos juntas na Escola Vasco da Gama. Ambas acompanhámos de perto crianças com Necessidades Educativas Especiais, avaliando as suas potencialidades e áreas de maior dificuldade intervindo de acordo com as suas idiossincrasias. A Inês é psicóloga e uma amiga a quem recorro muitas vezes para partilhar e discutir algumas problemáticas que vou encontrando na escola. Faz hoje parte da equipa da Oficina de Psicologia, um espaço que pretende avaliar e intervir junto de crianças, jovens e família que necessitem de um acompanhamento especializado na área da Psicologia, quando surgem desafios no seu desenvolvimento. Um dos últimos artigos aqui publicados teve como enfoque a importância da relação escola-família. Os seus desafios e as suas particularidades. Decidi pedir à Inês que me ajudasse a refletir melhor em torno desta questão através das cinco perguntas que lhe coloquei e que aqui hoje apresento.
Obrigada Inês.
"Qual consideras ser o aspeto fundamental na relação “Escola-Família”?
O aspeto fundamental é poder haver uma articulação que proteja os mais elevados interesses da criança e jovem e que potenciem o seu harmonioso desenvolvimento. Claramente, são dois pilares no desenvolvimento global – nas dimensões cognitiva, emocional, social e motora - da criança. Se os pilares não se equilibram, toda a estrutura fica enfraquecida, com impacto na criança e em toda a dinâmica criança-escola-família.
Quando os pais te procuram quais são as suas maiores ansiedades na dicotomia “filhos-escola”?
Em consulta, na maioria das situações, os pedidos relacionados com a dicotomia “filhos-escola” surgem como: desmotivação escolar e diminuição do rendimento escolar. Os pais não compreendem porque resistem os filhos a ir à escola, porque resistem a envolver-se nas tarefas e responsabilidades escolares, porque não demonstram prazer pela aprendizagem, porque surgem resultados escolares cada vez mais baixos, abaixo das capacidades da criança... Percebo, muitas vezes, a presença das questões da competitividade... Da luta pelo lugar no quadro de excelência, por ser o melhor da turma, da família... Em muitos casos por pressão da família mas, igualmente em muitos outros, por exigências auto-impostas. Descontruindo os pedidos de consulta e a sintomatologia inicial, numa grande percentagem dos casos percebemos na sua origem: dificuldades de aprendizagem específicas que até então foram “passando despercebidas” e quadros ansiosos (ansiedade de desempenho, ansiedade social, ansiedade de desempenho...).
Na tua opinião quais as maiores dificuldades (na família e escola) para a existência de um trabalho conjunto?
Invariavelmente, vivemos num mundo “acelerado”. De um modo geral os pais passam muitas horas a trabalhar e as crianças na escola. Nem sempre há flexibilidade das entidades empregadoras dos pais para facilitar uma ida a uma reunião nas escolas dos filhos, por exemplo, e nem sempre há flexibilidade dos professores para dar resposta às solicitações dos pais fora dos seus horários de atendimento. Em todo o caso, tenho assistido a uma maior esforço para ultrapassar as contingencias da disponibilidade. Há uma maior articulação por mails e, inclusivamente, já articulei com professores, pais e técnicos, por videoconferência.
Percebo que a ausência de uma linguagem comum entre pais e professores existe com frequência, assim como uma ausência de concordância quanto a objectivos/prioridades. Parece que cada um rema para seu lado, perdendo-se o foco na criança. A dicotomia de foco em desempenho vs processo de aprendizagem surge por vezes como outra dificuldade de comunicação entre família e escola. Percebo, também, muitas vezes, que os pais sentem alguma dificuldade quanto àquele que pode ser o seu papel na vida escolar dos filhos. Ajudo-o a fazer a mochila? Faço os TPC mais todas as fichas que não acabou na escola? Castigo-o pela bolinha vermelha do comportamento na escola? Devo ir falar com o professor sobre a nossa nova situação familiar? Por fim, e não menos importante, de acordo com o Relatório da Agência Europeia para Segurança e Saúde no Trabalho, publicado em 2014, na Europa 25% dos trabalhadores dizem sofrer de stress no trabalho durante a maior parte ou a totalidade do seu horário de trabalho, e uma percentagem semelhante relata que o trabalho afeta negativamente a sua saúde. Sabe-se que os professores são uma das profissões mais vulneráveis ao desenvolvimento de patologias associadas ao stress profissional – burnout. Nesse sentido, professores sobrecarregados entre burocracias e metas curriculares, acompanhados de desgaste emocional, acabam muitas vezes por não ter a disponibilidade que almejavam para realizar um trabalho conjunto escola-família que seja profícuo.
Ainda assim, e de um modo geral, assisto com agrado à tentativa de articulação entre pais e professores, nomeadamente em situações de crianças que se encontram em acompanhamento psicoterapêutico, independentemente do motivo deste.
Sentes que esta relação está a caminhar para maior proximidade, ou por outro lado ambos os protagonistas têm-se vindo a afastar?
Creio que de um modo geral, quando ambas as partes se mostram focadas nos interesses e necessidades da criança ou adolescente, a proximidade acontece de forma natural. E, nesses casos, a articulação funciona e beneficia o bem-estar de todos. As crianças sentem-se apoiadas e mais motivadas, os pais acompanhados e com maior capacidade de compreendar e orientar os filhos e os professores mais entusiasmados e focados nas idiossincrasias dos seus alunos.
Na tua perspetiva, como psicóloga e ao longo do trabalho que tens desenvolvido, quais os maiores desafios para a escola atualmente?
Acredito que um dos maiores desafios das escolas actualmente é proporcionar condições para que os diferentes intervenientes se envolvam de forma concertada para um objectivo comum, onde a satisfação global seja mais valorizada do que os resultados. Onde o envolvimento emocional permita dar cor à matriz das aprendizagens. Onde cada criança possa ser integrada de acordo com as suas idiossincradias, permitindo-lhe encarar a escola com curiosidade e vontade de aprender, sem que as metas e os rankings sejam os principais norteadores do quotidiano escolar. Onde cada criança se sinta única e especial. Onde o afecto seja o sustento da aprendizagem."
Fui recentemente convidada para fazer parte do blog "ComRegras". Um blog que conta com a participação de vários profissionais da área da Educação que contribuem com a sua visão e conhecimento sobre as várias valências desta área.
De forma a conseguir organizar estes dois espaços cada um dos blogues terá uma cadência quinzenal.
Deixo aqui os links de acesso aos dois artigos já publicados:
"Professor de Educação Especial, quem és tu?"
http://www.comregras.com/professor-de-educacao-especial-quem-es-tu/
"Quando a escola deixar de ser uma fábrica de alunos"
http://www.comregras.com/sem-rotulos-quando-a-escola-deixar-de-ser-uma-fabrica-de-alunos/