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O que o Público não sabe.

por Maria Joana Almeida, em 19.04.16

 

inclusao-exclusao.jpg

 

 

Na passada quinta-feira, o Público veio incendiar as redes socias, mais especificamente, os grupos ligados educação, com a seguinte notícia:

 

https://www.publico.pt/sociedade/noticia/alunos-com-necessidades-especiais-vao-ficar-em-turmas-maiores-no-proximo-ano-lectivo-1729206

 

Tenho dito que poupamos alguns ataques cardíacos quando deixamos de ligar tanto às notícias que pretendem lançar ódios imediatos e irreflexivos, por vezes gratuitamente num total desconhecimento da realidade, e perdemos (ganhamos) algum tempo a tentar desconstruir o que nos tentam “vender”.

 

Ao ler o despacho que deu origem a esta notícia, bem como o esclarecimento do Ministério da Educação, conseguimos perceber a sua perversidade.

 

No esclarecimento do Ministério da Educação podemos ler que: “Tem-se constatado, e isso tem sido sinalizado por vários responsáveis do setor da Educação Especial, que há alunos com NEE que são sistematicamente excluídos da sala de aula, passando a maior parte do seu tempo em unidades de apoio e não em contacto com os seus colegas e professores." e de facto é esta a realidade. Em nenhum momento está expresso que turmas com alunos NEE vão ser maiores. Por ter alunos com NEE as turmas já são, por si só, reduzidas (ou deveriam ser até 20) para permitir aos professores de turma uma melhor gestão da aula. Não vejo qualquer problema em que alunos NEE (sempre que o seu perfil de funcionalidade permita) passem 60% do tempo escolar dentro da sala de aula existindo, atualmente, casos em que passam até mais por assim se entender ser o mais correto. Isto tem muito mais de inclusão do que segregação. Em nenhum momento também li que estes alunos, não poderão estar acompanhados, mesmo em sala de aula, por Professores de Educação Especial ou Professores Sócio Educativo (se assim se entender). Também não refere que não continuarão a ser acompanhados individualmente (como bem necessitam).

 

O despacho vem, sim, salientar a necessidade de os alunos com Necessidades Educativas Especiais poderem estar integrados em mais disciplinas sem ser somente as áreas de expressão (como é comum). Na tentativa de quebrar um ciclo que existe em muitas escolas de que estes meninos com Necessidades Educativas Especiais pertencem apenas ao Departamento de Educação Especial (o que é também perverso). Estes meninos pertencem à escola e a sua evolução depende de todos os protagonistas educativos. Cabe à escola, ter sim, a autonomia necessária para avaliar o perfil de funcionalidade de cada aluno NEE e definir, em conjunto, as melhores respostas. E uma das melhores repostas, pode ser sim, uma maior permanência junto dos seus colegas de turma.

 

Quero também salientar que este meu entender é absolutamente apartidário. E que o Ministério da Educação tem revelado, sim, muitas falhas e processos difíceis que criam muita instabilidade nas escolas e que têm de ser resolvidos, mas este aspeto não é um deles.

 

Penso que é nosso papel contrariar uma comunicação social que insiste em enviesar ideias e deixarmos de estar reféns de opiniões de jornalistas que se assumem como conhecedores de todas as áreas.

 

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publicado às 14:45

Na gíria do "chumbar" ou "passar"

por Maria Joana Almeida, em 06.04.16

 

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Quero iniciar este texto admitindo, atualmente, a minha dificuldade em conseguir posicionar-me neste tema, independentemente das óbvias relativizações a ter em consideração nesta decisão sensível. E sei que não consigo posicionar-me porque o foco não deverá ser o “chumbar” ou “passar”, mas sim, o que fazer para tentar ultrapassar as dificuldades sentidas.

 

Admito ter passado de um posicionamento bastante rígido em relação à não transição para um modelo que considero hoje “mais equilibrado”. Não vou novamente esgotar este texto na ineficiência do nosso sistema educativo em responder muitas vezes às reais necessidades dos alunos, mas um recente estudo revela que Portugal está na categoria de países onde os alunos mais “chumbam.” E também está na categoria dos países que mais associa o chumbar ao baixo estatuto socioeconómico.

 

Portugal é de todos os países da Europa aquele que mais associa chumbar com um baixo estatuto socioeconómico e cultural da família. Na Holanda, sendo um país onde chumbar é uma prática corrente, existe praticamente paridade de chumbo entre classes sociais mais e menos abastadas. As escolas portuguesas parecem estar a ser incapazes de fazer um trabalho de nivelamento de oportunidades, principalmente se nos lembrarmos que é até ao 6º ano que a maioria dos chumbos acontece.” http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2016-01-30-Chumbar-melhora-as-aprendizagens-

 

Se a escola serve para diminuir diferenças entre estratos socioeconómicos e permitir as mesmas oportunidades, percebemos que muitas vezes falha nesse objetivo.

 

Existem muitos aspetos que se devem ter em consideração na decisão de transitar ou não transitar um aluno: as aquisições, o perfil psicológico do aluno; o acompanhamento da família e o ano de escolaridade em que se encontra. Considero que quando estamos perante uma situação onde claramente o aluno demonstra ter competências mas em casa não consegue um apoio suficientemente bom, não deverá pagar o preço pelas condições em que e onde nasceu e pelas respostas deficitárias.

 

O estudo indica também como exemplo a Holanda, país também inserido na categoria com maior índice de retenções, como aquele que tem demonstrado uma grande preocupação em colmatar as dificuldades dos alunos quando são retidos sendo assim um país que demonstra bastante sucesso no trabalho de recuperação.

 

"A Holanda sendo um país com uma forte prática de retenção de alunos está a ajudá-los a recuperar o atraso (cerca de 50% destes alunos atinge pelo menos o nível 3" http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2016-01-30-Chumbar-melhora-as-aprendizagens-

 

Recordo-me de uma “discussão” que tive há pouco tempo onde me verbalizaram: “O(a) aluno(a) não pode pagar por aquilo que a escola não é capaz de dar. A não ser que o aluno seja completamente irresponsável no seu processo de aprendizagem. Quem se esforça mesmo com limitações não deve ver o seu caminho cortado.”

 

A marca de uma retenção não é facilmente contornável, depende de vários fatores e por isso devemos questionarmo-nos em que medida é que esta visão pode promover o sucesso do aluno?

 

Recordo-me do caso de um aluno que revelava ainda muita imaturidade e agitação psicomotora e este seu perfil reflectia-se, naturalmente, no seu desempenho escolar. A preocupação dos pais e professores traduzia-se no alheamento aos conteúdos abordados. Foi retido no mesmo ano (7ºano). No final do ano em que esteve retido, o aluno conseguiu ultrapassar as suas dificuldades principalmente pela grande sensibilidade dos pais que compreenderam que o mais importante era encontrar uma estabilidade emocional que não estava a ser conseguida e dos professores que (importante salvaguardar que se mantiveram) desempenharam uma função motivadora e nunca castradora. As notas passaram, sem qualquer “água benta” para níveis positivos e muito positivos. Este caminho foi possível pelo projeto em conjunto do aluno, pais e escola.

 

Da mesma forma que olhamos para o não transitar como um rótulo negativo e um peso psicológico para o aluno, também o devemos olhar para uma transição desmedida sempre assente na premissa de não “ficar para trás” a todo o custo. Cada caso é um caso e se tenho dificuldade em ter uma visão taxativa na decisão de transitar ou não, também a tenho em rotular a retenção taxativamente como algo extremamente negativo e sempre dramático.

 

A questão que se deve colocar é: Não transitando o aluno haverá condições para trabalhar as competências e potenciar as vivências necessárias para progredir com mais segurança? A decisão tem de ser sempre a longo prazo e nunca de um ano para outro avaliando naturalmente todas as variáveis.

 

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publicado às 23:57


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